Na edição deste ano do prémio Professor do Ano, a escolha da Comissão Editorial da Casa das Ciências, recaiu no professor no Agrupamento de Escolas de Moimenta da Beira, Paulo Sanches, Professor de Física e Química, reconhecendo assim o seu trabalho docente na escola e na partilha das suas experiências com toda a comunidade docente.
Para começar, conte-nos um bocadinho do seu percurso de vida.
Eu sou natural do concelho do Fundão, de uma aldeia chamada Vale de Prazeres. Fiz o meu ensino secundário no Fundão, depois fui para a cidade do Porto, para a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde tirei o curso de Química, mas do ramo científico.
Quando acabei o curso não havia, na altura, muita empregabilidade na parte dos laboratórios e praticamente eu e todos os meus colegas fomos para o ensino. Mantive-me na zona do Porto e de Paços de Ferreira durante quatro anos, colocado sempre nas escolas do concelho de Paços de Ferreira. Quando decidi concorrer um bocadinho mais a nível nacional, para efetivar, vim parar a Moimenta da Beira, isto em 1998.
Como eu tinha sempre aquele gosto por divulgar a ciência, no ano seguinte, 1999, lancei o Clube das Ciências, com o intuito de divulgar a ciência e motivar os miúdos para a ciência.
Em 2005-2006, concorri aos projetos Ciência Viva, e a partir daí foi quando se deu o grande boom, sempre para projetos, participar em concursos, participar em divulgação de ciência, começar a criar parcerias com, por exemplo, a Universidade de Aveiro, depois com alguma parte do ramo da astronomia, que é uma das minhas paixões.
Em 2009, comemorava-se o ano internacional da astronomia, que era um evento a nível mundial, e cá Portugal também se faziam algumas atividades, envolvi-me muito nessas comemorações e lembrei-me, além de ir participar nalguns eventos de astronomia, criar a concentração de telescópios em Moimenta da Beira.
De telescópios?
De Telescópios. Se faziam concentrações de motas porque é que não havíamos de fazer uma concentração de telescópios? Eu já conhecia muitas pessoas do mundo da astronomia, principalmente astrónomos amadores, e fizemos, ou pelo menos pensei fazer um evento a nível nacional que se reunisse em Moimenta da Beira. Aquilo correu tão bem, foi divulgado a nível nacional, que tivemos logo a presença de quarenta e dois telescópios. Na altura convidei o coordenador nacional e o coordenador internacional, que também era um português, mais o presidente dos astrónomos amadores e fizemos o evento que era para ter sido só em 2009.
Quando lhes disse que só iríamos fazer isto em 2009 eles quase que nos obrigaram a repetir a concentração, repetimos depois em 2010, mas depois decidimos passar a organizar de dois em dois anos, fizemos em 2012, 2014, 16, 18, e tudo estava previsto fazermos agora a sétima concentração em 2020, que já vinham espanhóis, aqui da zona da Estremadura, mas devido à pandemia acabou por não se realizar.
Além do campo da astronomia também fazemos alguns trabalhos e projetos na parte do espaço, semana mundial do espaço, lançamento de foguetões, etc. Depois tenho também algumas atividades de holografia…
De?
Holografia, fazer hologramas, uma parceria que tenho com a Universidade de Aveiro. Depois também me envolvi nos robôs da LEGO, da parte da robótica, e isto tudo paralelamente às aulas de físico-química.
Pelo facto de ter já uma ligação um bocado muito antiga ao Ciência Viva e ter feito muitos projetos fui convidado a levar dois alunos de Moimenta para sermos nós os representantes de Portugal no International Space Camp realizado nos Estados Unidos. Eles elegem um professor por cada estado, que consideram o professor do ano, depois juntam esses tais cinquenta e tal professores americanos com cerca de vinte a trinta professores de outros países e vão visitar a Casa Branca, a NASA, etc.
E o Paulo foi o convidado português?
Eu fui um dos convidados para 2010. Houve uns colegas que tinham ido em 2009, outros em 2011, e na altura em 2010 fui eu. Pude levar dois alunos, foi a experiência mais fantástica que já tive na minha vida. Passar uma semana na NASA. Eu fiz um programa espacial, os alunos fizeram outro, foi muito bom.
Dá aulas a que anos de escolaridade?
Dou aulas desde o 7º ano até o 12º.
Criei também, em 2009, um projeto para levar o ensino da ciência ao pré-escolar e ao primeiro ciclo. Professores de físico-química e professores de biologia levamos desde 2009 a ciência junto dos pequeninos.
Portanto, todo este trabalho de divulgar e promover ciência, foi reconhecido pelo Ciência Viva no ano passado atribuindo-me um prémio.
Este ano surgiu este prémio por parte de outra entidade que é a Casa das Ciências, um portal de divulgação de recursos, de trabalhos de ciência, junto de professores, quer sejam de físico-química, biologia, matemática ou informática.
Já estou ligado à Casa das Ciências praticamente desde o início, todos os anos eles têm feito um encontro internacional de professores no qual eu também tenho colaborado, tenho feito lá alguns workshops e portanto o prémio deste ano da Casa das Ciências, que foi instituído em 2018, é o reconhecer também não só o trabalho que faço com os alunos mas também o trabalho de partilha com outros colegas.
Ou seja, é um prémio não só da química ou da ciência em si, mas é um prémio global?
Sim, é um prémio atribuído a um professor que gosta de partilhar a sua experiência, e a sua divulgação de ciências junto dos colegas, que está sempre disponível para isso.
Num ano como este em que os professores tiveram que fazer muito do seu trabalho à distância este prémio ganha outro sentido?
Vejo-o como sendo o reconhecimento de vinte anos de trabalho em prol da divulgação da ciência. Claro que, este ano, tivemos praticamente que nos reinventar, socorrermos de outras estratégias, de outras metodologias para chegar aos miúdos e até mesmo entre nós, para divulgarmos e comunicarmos uns com os outros.
Eu costumo dizer que faço isto porque gosto, desde miúdo sempre gostei muito de ciência, sempre gostei de me questionar o porquê das coisas, e é isso que eu tento incutir aos miúdos, é que eles se questionem sempre porque é que isto cai, porque é que isto funciona, etc.
Nada acontece por acaso.
Nada acontece por acaso, e sempre tive essa curiosidade, e gosto de tentar que os miúdos e muitos colegas meus entendam o porquê das coisas, mas às vezes recorrendo a exemplos e a analogias muito simples. Eu gosto de fazer muitas comparações com coisas que eles conhecem do dia a dia. Quando me contactaram a dizer que me iam reconhecer como professor do ano claro que me deu uma satisfação muito grande mas…
Não trabalha para o prémio.
Não trabalho para o prémio nenhum. Acima de tudo tenho muito prazer em fazer as coisas. Estes prémios, quer o do ano passado, quer o deste ano, não há candidatura, não há concurso, a entidade, portanto a instituição Ciência Viva, a entidade Casa das Ciências vai conhecendo o trabalho que eu vou fazendo e decidiram premiar-me.
Sente que o seu trabalho também é reconhecido na escola onde leciona e pelo município de Moimenta da Beira?
Sim, sim, penso que a escola reconhece perfeitamente o trabalho que tenho feito, assim como o próprio município.
Reconhece e valoriza?
Sim, penso que sim. Dá-me todas as condições para desenvolver o projeto. Não me posso queixar, é por isso que me sinto bem nesta escola. Tenho um bom relacionamento com os alunos, com os professores, com os funcionários, com a direção. Muitas das atividades que vou fazendo só as consigo fazer porque tenho a ajuda dos funcionários, principalmente, de alguns colegas que me ajudam porque não consigo fazer nada sozinho. Eu até costumo dizer que estes prémios não são só meus, são de um conjunto de pessoas que me ajudam a promover as coisas.