Carlos Silva Santiago defende que os municípios deviam ter “capacidade de decisão imediata”

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Sernancelhe
Carlos Silva Santiago, presidente da Câmara Municipal de Sernancelhe/Foto: Salomé Ferreira

Presidente da Câmara Municipal de Sernancelhe desde 2013, Carlos Silva Santiago, confessa que a saúde é um dos problemas que mais o preocupa neste momento no concelho. O VivaDouro esteve à conversa com o autarca, onde falou acerca da sua experiência nestes dois anos de mandato.

Como é que se decidiu candidatar a presidente da Câmara Municipal de Sernancelhe?

É uma consequência da minha atividade anterior, porque eu já fazia parte do executivo do anterior autarca, trabalhei com ele 12 anos. Por força das circunstâncias as coisas foram-se assumindo e acabou por ser uma vontade natural de dar continuidade a um trabalho de excelência e de grande dedicação que o Doutor José Mário teve ao concelho de Sernancelhe. Acaba assim por ser uma entrada natural na vida autárquica, não foi nada planeado nem pensado, foi tudo uma questão natural.

Até ao momento quais foram as maiores dificuldades que encontrou no exercício do seu cargo?

Muitas das vezes a nossa maior dificuldade é a falta de autonomia e a falta de decisão que existe nos serviços desconcentrados do Estado. Na questão da saúde todos os dias recebo queixas dos utentes e não conseguimos resolver porque não depende da boa vontade do município, portanto o meu maior problema atualmente no concelho de Sernancelhe é a questão da saúde. Há um conjunto de serviços que são desconcentrados do Estado que deveriam ter mais autonomia, deviam ser mais práticos, mais objetivos e não tanto académicos, acho que nós precisamos dessa destreza, dessa capacidade de decisão imediata sem estarmos dependentes de um conjunto de ações e burocracias que atrasam o país. O maior problema do autarca é estar metido nesta encruzilhada burocrática.

Quanto ao seu futuro politico, ainda faltam dois anos, mas está em cima da mesa a hipótese de se voltar a candidatar nas próximas eleições autárquicas?

Claro, um projeto de um autarca não se resume apenas a quatro anos.

Comparticipação na aquisição de medicamentos para idosos/Foto: Direitos Reservados
Comparticipação na aquisição de medicamentos para idosos/Foto: Direitos Reservados

Com a crise financeira que se viveu nos últimos anos as condições de vida da população têm-se agravado cada vez mais. Em termos de apoios sociais, como é que a Câmara tem ajudado os cidadãos mais necessitados?

Sobre a questão da crise financeira é certo e é um facto que nós tivemos muitas dificuldades. Deixe-me dizer também que esta crise se sentiu mais nos grandes centros urbanos do que propriamente nestes meios designados de municípios de baixa densidade. O meio rural é um pouco diferente, é verdade que esta crise criou dificuldade no crédito aos jovens para iniciarem o seu processo de vida. É difícil adquirirem uma casa porque os bancos, estando descapitalizados, não podem emprestar dinheiro e as empresas de construção civil passam por uma fase difícil. No entanto, no concelho apareceram mais empresas do que aquelas que desapareceram, isso mostra bem a necessidade que houve de melhorar. Temos uma empresa que surgiu em Sernancelhe em plena crise nacional que tem cerca de 40 funcionários e faturou três milhões de euros no ano passado, na área da metalomecânica, uma área que em determinadas zonas do país faliu e em Sernancelhe está com um sucesso enorme. Penso que o interior sempre fez mais do que aquilo que se esperava que pudesse fazer. Nós temos que trabalhar sempre o dobro para fazermos aquilo que os grandes centros urbanos conseguem com “um estalar de dedos”. No campo social, por exemplo, o Estado diminuiu significativamente o valor dos medicamentos e isso repercute-se obviamente nas famílias. O município também tem um apoio, que chega a 400 euros por pessoa, destinado aos idosos para que possam comprar os seus medicamentos. Na questão das crianças há bem pouco tempo apoiávamos os alunos todos por inteiro, sem descriminação de escalão porque havia um processo difícil no país. Atualmente isso já não acontece porque Portugal começa a ter novamente retoma económica. Assim, penso que a crise em Sernancelhe sentiu-se num ou noutro setor, mas como diria o nosso escritor Aquilino Ribeiro: “alcança quem não cansa” e acho que o interior tem dado bons exemplos ao litoral de como se ultrapassa uma crise.

Parque Empresarial de Ferreirim
Parque Empresarial de Ferreirim/ Foto: Direitos Reservados

Quais são as áreas de investimento que recomenda em Sernancelhe?

Nós temos a zona empresarial de Ferreirim, que se encontra lotada, há dois anos que está completamente cheia. Estamos também a negociar os terrenos da zona industrial de Sernancelhe, a primeira fase vai avançar brevemente e já temos um conjunto de empresários de fora e de dentro do concelho que vão investir nesse espaço empresarial em vários setores de atividade. Mas é verdade que hoje a agricultura é um setor em expansão e Sernancelhe, tal como o resto desta região, tem terrenos férteis, que são propícios a um determinado tipo de fruto, como servem de exemplo a Castanha, a Maçã e a Uva. Se pensarmos bem, a Castanha e a Maçã são dois frutos em que ainda não somos autossuficientes, ou seja, se houver mais investimento com certeza teremos resultados muito positivos.

A agricultura é então o principal setor de investimento aqui em Sernancelhe?

Sim, apesar de termos um setor muito diversificado e também muito forte nas áreas do granito, da metalomecânica e da construção civil, a agricultura continua a ter uma posição muito interessante. Repare que nós temos três grandes empresas no concelho que comercializam produtos hortícolas e frutícolas, que têm um contributo notável para o desenvolvimento económico de Sernancelhe.

A dinamização do setor do Turismo encontra-se na lista de prioridades do município? Pretendem investir nessa área?

Eu penso que toda esta região do Douro tem um conjunto de infraestruturas, nas mais variadíssimas áreas, que são de excelência. Para além da paisagem natural de que goza esta região e de toda a paisagem arquitetónica que tem, os seus monumentos são fantásticos. Mas não podemos falar de Sernancelhe enquanto elemento turístico isolado, ou seja, ninguém consegue fazer Turismo de forma independente e orgulhosamente só, sempre estivemos integrados numa rede com todas as outras regiões. Só podemos ter sucesso turístico se estivermos englobados neste projeto. O que é preciso é cada vez mais criar um turismo integrado.

Sente que os jovens têm dificuldade em se fixar aqui no concelho?

É verdade, esse é um problema também. Mas não é uma dificuldade só de Sernancelhe, penso que o nosso concelho e os municípios vizinhos têm condições de excelência para os jovens ficarem cá, não tenho dúvidas nenhumas disso. A única diferença que existe entre as boas condições de Portugal e as boas condições da Suíça, da França, da Alemanha é que nesses países ganha-se cinco ou seis vezes mais. Portugal tem que fazer este caminho, tem que ir equilibrando as suas contas, permitir que as empresas possam aumentar os seus lucros e consigam pagar mais aos nossos jovens, consoante as habilitações académicas e o grau de especialização. Penso que quando isso acontecer os jovens não irão ter tanta necessidade de emigrar. Nós precisamos de muita mão-de-obra, as empresas de Sernancelhe todos os dias nos contactam dando conta da necessidade de pessoas para trabalhar, o que é revelador de uma grande dinâmica empresarial. Contudo, entristece-nos saber que há gente que vai embora quando afinal nós precisamos dela cá. Mas acredito que o único problema tem a ver com a questão do ordenado, porque em termos de condições para viver, constituir família e ter uma vida saudável não há melhor que Portugal.

A taxa de emigração tem aumentado no concelho?

Nós, pelos últimos estudos, sabemos de muita gente que vai embora mas também de muita gente que regressa. Sernancelhe aumentou em 11 pessoas, ou seja, a diferença entre os que saíram e os que entraram é positiva, o saldo migratório é positivo e isso para nós é muito gratificante. Mas temos a particularidade de ter um grupo de emigrantes que vêm ainda numa altura muito importante para contribuírem para o desenvolvimento do concelho.

Enquanto autarca quais são as suas principais prioridades para o concelho?

A nossa principal prioridade são sempre as pessoas. Eu até tenho medo de dizer alguma banalidade, visto que está na moda dizer banalidades. Queremos que a economia do concelho cresça, que os nossos idosos tenham qualidade de vida, era importante que os nossos jovens se fixassem e tivessem bons vencimentos para iniciarem o seu projeto de vida em Sernancelhe. É verdade que nós dizemos isto mas não passam de banalidades, mas quem é que não concorda com elas? Precisamos é de saber como é que vamos fixar esses jovens, como é que podemos fazer mais para que os nossos idosos tenham melhor qualidade de vida. Agora dizer isto de forma muito abstrata não há nenhum politico no mundo que não o saiba dizer. O que é preciso é saber como fazer, onde fazer e saber se temos condições para criar expetativas às nossas gentes. É urgente que os municípios tenham poder para intervir de forma explícita na saúde, na educação, no planeamento territorial, na verdadeira ação social, estes sim elementos prioritários para o nosso povo português.

Qual é o balanço que faz destes quase dois anos de mandato?

Positivo, acho que o concelho de Sernancelhe tem a sorte de ter um conjunto de autarcas e presidentes de Junta de Freguesia jovens, com uma dinâmica muito interessante. Na sua maioria são da minha geração, a maior parte deles foram meus colegas de escola, portanto há uma relação muito próxima entre o presidente da Câmara, os vereadores e todos os presidentes de Junta, sem exceção. Isso permite que exista um nível de pensamento muito próximo nas principais estratégias para o concelho de Sernancelhe. Assim, acabamos por estar devidamente informados das principais prioridades e acredito que o trabalho que temos estado a fazer, apesar das dificuldades que o país viveu, tem sido um trabalho muito interessante, muito dedicado e se os jovens têm essa obrigação nós sentimo-la e executamos no terreno, é esse o nosso objetivo.

Para finalizar, quer deixar uma mensagem à população?

Que continuem com a mesma dedicação, com o mesmo empenho e acima de tudo a paciência e compreensão que é necessária nos tempos de hoje, porque vale mais fazer pouco e bem do que fazer muito e comprometer o sucesso das gerações que aí vêm. Sejamos lembrados por os termos ajudado a ter futuro, isso é aquilo que eu mais aspiro quer para Sernancelhe, quer para a região norte e para o nosso país.