
Depois de ter entrado para o Inventário Nacional do Património Cultural e Imaterial (INPCI), em março, a confeção do Barro Preto de Bisalhães encontra-se agora em processo de candidatura à Lista do Património Cultural Imaterial da Unesco. Essencialmente com o objetivo de preservar e salvar esta arte.
Neste momento o município encontra-se a aguardar carta da Unesco a confirmar que o processo se encontra completo, a fase seguinte passará pela avaliação da candidatura
pelo órgão competente. “Só depois de ser conhecida a avaliação deste órgão poderá ser feita uma previsão aproximada do resultado deste processo, que esperamos seja positivo”, explica Eugénia Almeida, Vereadora da Câmara Municipal de Vila Real.
Manuel Martins, com 83 anos, é neste momento o mais velho dos quatro oleiros existentes em Bisalhães. Tendo começado este ofício desde pequeno, o artesão, recorda ainda os tempos de antigamente quando iniciou a atividade, “Éramos cerca de 30 naquela altura”,
conta Manuel Martins, acrescentando que naquela época as vendas eram mais fortes.
O artesão aprendeu a arte de moldar o barro com o pai e pretende manter-se em atividade até “ter forças”, conta ao VivaDouro, acrescentando que seguiu “a sua vocação”, quando escolheu seguir esta profissão. Desempenhou ainda funções na Junta Autónoma das Estradas, no entanto não se sentia realizado e voltou à atividade de oleiro.
Querubim Queirós, outro dos artesãos ainda em atividade, seguiu praticamente as mesmas pisadas que Manuel Martins. Começou a confecionar o barro quando ainda era criança, também por influência do pai. Após 40 anos de ter iniciado o seu percurso como artesão, ainda se dedica à venda destas peças. O oleiro conta que costumava vendê-las junto à estrada do marão, onde admite que tinha mais clientes.
Ao contrário de Manuel Martins e Querubim Queirós, Cesário Rocha Martins não se dedicou por inteiro a esta atividade. Associou o seu emprego na Guarda Nacional Republicana ao gosto que tem pelo Barro preto de Bisalhães e agora que se reformou investe todo o seu tempo nesta arte.
Apesar de terem seguido caminhos divergentes, todos os oleiros têm algo em comum, o receio de que a arte não sobreviva, dado que neste momento existem poucos artesãos em Bisalhães. Na opinião de Manuel Martins a arte tem “tendência a morrer”, Querubim Queirós afirma ainda que ninguém quer trabalhar o barro preto por ser muito trabalhoso e “sujo”.
Cesário Martins, por outro lado, mostrou a sua positividade e paixão pela arte, ao admitir
ter fé de que a candidatura para património cultural imaterial da UNESCO, seja aceite. Com isso, o artesão tem esperança que o Barro de Bisalhães tenha uma nova visibilidade não só no distrito mas também no país.
Numa calendarização que se inicia em 2016 e se estende até 2020, a Câmara Municipal de
Vila Real propõe a realização de um plano de salvaguarda para evitar a extinção do Barro Preto de Bisalhães, dividido em várias categorias: apoio aos praticantes, educação e formação, valorização económica e valorização patrimonial e científica. O orçamento total
previsto para a sua realização é de 368 mil euros.
Entre as medidas contempladas no plano para a educação e formação, o executivo propõe a
realização de cursos de formação profissional de novos artesãos, bem como uma proposta de inclusão no projeto educativo das escolas de temáticas relacionadas com a olaria de Bisalhães. Estas medidas vão de encontro ao que Manuel Martins considera ser essencial para que esta arte não desapareça. O artesão considera importante uma aprendizagem
permanente, desde cedo nas escolas, para incutir nas crianças “o gosto pela arte”.
Um dos principais objetivos do município passa “pela dignificação das condições de trabalho
dos oleiros atuais”, declara a vereadora, para isso, estão previstas ser realizadas medidas como a requalificação do espaço urbano onde se localizam os postos de venda
atuais bem como o apoio aos oleiros no transporte do barro.
Este último ponto verifica-se como essencial, visto que para os três oleiros a falta de facilidade em adquirir o barro no concelho constitui-se neste momento como um dos principais entraves na prática desta atividade.
O plano realizado pela autarquia passa ainda pela revisão das estruturas associadas à confeção da loiça preta, como as oficinas e os fornos dos oleiros. Medida que Querubim Queirós aponta como necessária para a continuação da prática desta atividade.
Na lista de medidas de valorização patrimonial e científica do Barro Preto de Bisalhães, para além da candidatura a património Cultural Imaterial da Unesco, estão previstas ainda medidas como a realização de novas exposições destinadas à divulgação e sensibilização
pública da arte, promoção de um seminário sobre a produção de louça preta na Península Ibérica e a reformulação do website já existente acerca da olaria de Bisalhães.
De acordo com Eugénia Almeida, a análise da documentação existente acerca do Barro Preto
permite aferir que já existe produção desta louça desde o século XVI, em algumas localidades de Vila Real. A vereadora acrescenta ainda que a confeção através de
processos tradicionais mantidos têm permanecido sem alterações
e “profundamente enraizados na comunidade local”.