A Necrópole Medieval das Touças é um sítio arqueológico bastante complexo, enigmático e interessante. Trata-se de um local que, na atualidade, se encontra em exploração pela equipa de arqueólogos da Associação de História e Arqueologia de Sabrosa.
O sítio arqueológico é caracterizado pela presença de conjuntos de ortostatos em granito, alinhados com o solstício de verão, uma sepultura dupla escavada na rocha, diversos sarcófagos rupestres e um marco de demarcação da comenda da Ordem de Malta.
Gerardo Gonçalves e Dina Pereira são os dois responsáveis pelas escavações que acontecem neste local e que têm colocado à vista uma série de pontos de interesse deste sítio.
“Este espaço vários pontos importantes já referenciados. O primeiro é um marco da Ordem de Malta que, segundo informações recolhidas, eram os proprietários destas terras no séc. XVIII. Por trás desse marco existiria uma capela dedicada a Sta. Maria de Hermes, da qual já teremos descoberto um muro no decorrer de uma sondagem que realizamos, sendo que conseguimos perceber que ela tem mesmo a orientação que respondia aos padrões canónicos da época.
Temos aqui também perto de 40 pedras fincadas que, ao que parece, foram reaproveitadas para a construção da capela, algo comum na época, o cristianismo quando chegava construía capelas utilizando estruturas já existentes. Já tivemos também oportunidade de verificar que estas pedras estão perfeitamente alinhadas com o solstício de verão.
Outro ponto de interesse deste sítio são os sarcófagos, temos aqui vários exemplares em diferentes estados de construção, desde um que praticamente ainda nem está trabalhado a algumas peça já completamente finalizadas. Temos aqui também uma sepultura completamente escavada na rocha, a única que identificamos até ao momento. É uma sepultura dupla, que seria para um casal do séc. XIV ou XV. Com esta estrutura podemos ter uma ideia da altura das pessoas da época, que rondaria cerca de 1,60m. Estes sarcófagos não eram utilizados aqui, cremos que este fosse um local de produção sendo depois vendidos”.
Para os arqueólogos esta é uma oportunidade de conhecer melhor a história do concelho de Sabrosa e da sua importância ao longo da linha cronológica do tempo.
“Há várias informações que podem ser retiradas daqui. Desde logo este é um sítio onde podemos estudar o processo integral de construção de sarcófagos, desde o corte da pedra até ao sarcófago já finalizado, pelo que conheço é mesmo o único em Portugal. Conseguimos também perceber as diferentes ocupações que este local teve e que poderá recuar à idade do ferro e do bronze, a mesma do Castro de Sabrosa. Vai-se criando um pequeno mosaico da ocupação do concelho de Sabrosa. Só o facto de termos aqui este atelier de sarcófagos já é uma coisa que desperta muita curiosidade”.
De acordo com os responsáveis, este local tem ainda um potencial turístico que pode ser explorado, até porque é atravessado por um trilho que é muito procurado por locais e forasteiros.
“Este local tem também muito interesse turístico, desde logo porque é atravessado pelo trilho de Miguel Torga, há muitas pessoas que passam por aqui. Quando estávamos em escavações tivemos aqui dois holandeses que se mostraram muito interessados pela escavação, inclusivamente queriam participar nos trabalhos. Acabaram por nos pedir indicações de outros locais que poderiam visitar e é essa informação que ainda falta”.
Para colmatar esta falha a associação está “agora a preparar um livro, que é pensado sobretudo para as escolas, mas que pode ser utilizado por toda a gente, onde vamos compilar muita desta informação existente, de forma simples, para que as pessoas possam conhecer os locais enquanto fazem os seus passeios pelos trilhos”.
Apesar de estar inventariado na base de dados da Direção Regional do Património, o sítio “não está ainda classificado nem tem qualquer proteção. O objetivo é requerer uma classificação como Imóvel de Interesse Público, ou concelhio, pelo menos, já ficaríamos contentes”.
Um dos apoios fundamentais para a persecução dos trabalhos neste sítio vem da autarquia, “em especial ajudando na aquisição de materiais e ferramentas que são necessários para que possamos continuar com as escavações, é um apoio importante porque de outra forma não seria possível fazer o que fazemos aqui”.
Um dos projetos futuros passa também por criar neste local “um campo arqueológico que servirá também como forma de financiamento, estamos a tentar criar um sistema de autossustentabilidade”.
Este ano o sítio já esteve integrado no programa das Jornadas Europeias da Arqueologia, desenvolvendo-se ali diversas atividades, entre elas um dia aberto dedicado à arqueologia e a celebração do solstício de verão.