
José Paulo Santos, jovem realizador aluno de mestrado e investigador em Ciências da Comunicação da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), foi selecionado para a 8.ª Edição do Festival Internacional de Cinema de Turismo, com o documentário “…além da sala de espera”. O filme retrata a vida de um casal de eremitas alemães, que vive na aldeia de Moçães, nos subúrbios de Vila Real. O Festival terá lugar em Vila Nova de Gaia, entre os dias 21 e 23 de outubro.
O realizador, natural de Coimbra, marca assim presença na 8.ª edição do Festival, que ficou marcada por um recorde de participações. Competiram 256 candidaturas de 54 países, sendo que o filme de José Paulo Santos ficou nomeado para o Prémio Ar&Tur, na categoria de “Vida Humana, pessoas e lugares”.
Apesar de esta não ter sido a primeira nomeação de José Paulo Santos para um festival, o realizador confessa que “não estava à espera, porque é muito difícil”, disse. “Quando recebi a notícia confesso que fiquei felicíssimo, é o reconhecimento de um trabalho”, afirmou.
Com formação em Jornalismo, José Paulo Santos conheceu o casal de alemães no ano de 2001, em âmbito profissional. “A minha decisão foi que aquele casal era extremamente importante para me limitar numa peça jornalística e sempre pensei que ia fazer um documentário com eles”, explicou.
A oportunidade surgiu 12 anos depois, em 2013, altura em que José Paulo Santos propôs ao casal: “Porque não fazer um documentário? Vocês têm tanto saber, tanta coisa para contar e ensinar”, afirmou o realizador, ao recordar o momento em que fez a proposta ao casal de ermitas alemães.
Desta forma, o documentário retrata a vida de “Maria Feliz” e “Feliz”, nomes adotados pelo casal que deixou o país de origem há três décadas, para viver em modo-auto sustentado, na aldeia de Moçães, em Vila Real.
“Eles vivem do que a terra lhes dá. A luz que têm é através da cera das abelhas, reconstruiram o moinho para fazer o pão, com essa farinha também fazem a própria massa, é uma pobreza voluntária mas com um conhecimento enormíssimo”, explica José Paulo Santos.
“A Maria Feliz pratica medicina tradicional e tem muito conhecimento na área, no caso do Feliz, ele é mais filosófico e tem um conhecimento mais aprofundado sobre os temas da atualidade”, afirmou o realizador, ao explicar o modo de vida deste casal.
José Paulo Santos optou por este tema para a realização do documentário, como uma forma de mostrar ao público que em, “tempo de crise é muito importante percebermos como é que com um pouco de terra e conhecimento nós sobrevivemos. Estamos preparados para sobreviver e para isso é preciso conhecimento”, assegurou o jovem realizador.
Entre o tempo de gravação e de edição, o documentário “…além da Sala de Espera” demorou cerca de seis meses a ser realizado, sendo que para José Paulo Santos “simplicidade” é a palavra que melhor classifica todo este trabalho. “Era eu, a câmara, o tripé, o microfone e eles os dois”, afirmou.
“A curiosidade deste documentário é exatamente essa, eu toquei todos os instrumentos, fiz a realização, a produção, a gravação de áudio, fiz tudo sozinho”, disse José Paulo Santos. Já no que diz respeito a financiamento, o atual investigador em Ciências de Comunicação, acredita que no total gastou cerca de 40 mil euros na realização do filme.
“Foi a minha estreia, não ia estar a pedir um patrocínio sem um portefólio nesta área, agora depois desta nomeação talvez seja mais fácil”, sustentou o realizador.
Em relação à escolha do título “…além da Sala de Espera”, José Paulo Santos explica que o casal considera, “que todos nós vivemos numa sala de espera, acomodados no sistema, enquanto eles já se encontram além dessa sala de espera, já se levantaram e já estão com a vida deles, independentemente das doutrinas que praticam”.
Apesar de considerar que “só a seleção já é um prémio nestes festivais”, o realizador tem esperança que o filme possa vir a ser premiado no dia 23 de outubro, em Vila Nova de Gaia. “Penso que o filme vale pela simplicidade que tem, retrato pessoas simples e considero que consegui, não fazendo recurso a muita tecnologia, passar a mensagem e ser percebido”, revelou José Paulo Santos.
No futuro “quero continuar com a simplicidade, com a minha camara, os meus documentários e essencialmente trabalhar com pessoas e não com atores”, afirmou. José Paulo Santos pretende fazer outros documentários, relacionados nomeadamente com Camilo Castelo Branco, “penso que podia acrescentar alguma coisa, pelo menos em termos cinematográficos, à maravilhosa vida deste autor”, revelou.
Para além dos documentários, José Paulo Santos revelou ainda que brevemente irá realizar uma curta-metragem, que funcionará como uma crítica social, onde já vai recorrer a atores.