
Campanha de crowdfunding levada a cabo por grupo de estudantes ajuda a reabrir tasca “Baca Belha”, aberta desde 1900 numa das mais antigas zonas de Vila Real. A campanha que finalizou a 17 de maio ultrapassou o objetivo inicial de angariar 2500 euros.
Foi em novembro do ano passado que Alberto Nóbrega, proprietário da Baca Belha, se viu obrigado a encerrar o estabelecimento que já se encontra na família há 115 anos devido a uma inspeção da ASAE. “Era preciso fazer algumas recuperações, essencialmente pinturas e acabamentos, mas sozinho não ia conseguir arranjar o dinheiro”, explicou ao VivaDouro.
“É como se fosse da nossa família e ver uma pessoa tão ligada a nós a perder assim o seu sustento e o sítio que conheceu durante toda a vida é muito triste e não podíamos deixar passar”, conta Vanessa Guerra, uma das estudantes envolvidas na iniciativa.
Depois de já terem realizado iniciativas como a distribuição de mealheiros em pontos estratégicos da cidade e um concerto de tunas no Club de Vila Real, o passo seguinte foi a realização de uma campanha de crowdfunding, método de financiamento que permite a qualquer cidadão propor uma ideia numa das várias plataformas existentes, com o objetivo de obter apoio financeiro de terceiros.
“Eu estava a estudar na altura quando me lembrei desta ideia, porque já tinha acompanhado bastantes campanhas, não por estes motivos”, explicou Francisco Fernandes, um dos impulsionadores da campanha.
Depois da ideia concebida, o passo seguinte foi a escolha da plataforma para realizar a campanha. Acerca disto, Francisco Fernandes explica que nunca esteve em cima da mesa a hipótese de escolher uma plataforma de crowdfunding nacional, “se aquilo chegasse a todos os cantos do mundo ia ser muito melhor para nós do que estar só a chegar a Portugal”, declarou ao VivaDouro.
A campanha iniciada em abril acabou por chegar perto do valor inicialmente pedido mais rápido do que os jovens estavam à espera. “Passámos os dois mil euros muito rapidamente e nessa altura a divulgação agressiva da campanha parou, porque senão íamos ultrapassar o valor muito rapidamente”, confessou o estudante, acrescentando ainda que seria “fácil chegar aos cinco mil euros mas não fazia sentido porque era dinheiro que não era necessário e a campanha não podia ser encerrada antes do tempo”.
Apesar de nunca ter duvidado que iriam conseguir atingir os objetivos iniciais, Vanessa Guerra confessa que não estava à “espera de tanta adesão da parte de tanta gente, até de pessoas de fora, mas o facto de termos escolhido uma campanha internacional também ajudou”, declarou a estudante.
No total 204 pessoas contribuíram para a iniciativa, sendo que os donativos provenientes do estrangeiro tiveram uma percentagem superior a 50%. Foram mais de 20 os países que se sensibilizaram com a causa do “Sr. Alberto”, entre eles o Qatar, Brasil, França, Suíça, Inglaterra e os Estados Unidos.
Com a iniciativa dos mealheiros e do concerto solidário o grupo conseguiu amealhar cerca de 300 euros. Já no que diz respeito à campanha de crowdfunding, o financiamento acabou por ser de 104%, tendo sido angariados 2601 euros. Ao valor totalizado serão ainda deduzidas taxas, sendo que no final o valor vai ser traduzido em cerca de 2400 euros.
De acordo com Francisco Fernandes, os donativos vão servir “principalmente para garantir alguma estabilidade e para isso é preciso pagar todas as dívidas como a água e a luz, para poder ter um começo real porque se temos um começo com dívidas não serve de nada”, acrescentando ainda, “cabe-nos a nós fazer com que a vida dele fique um bocadinho mais incrível de alguma maneira”.
Depois de terem sido feitas algumas obras, nomeadamente renovação do chão e do teto, nova pintura e alguns acabamentos, a taberna “Baca Belha” já recebeu uma nova inspeção no mês passado que lhe concedeu luz verde para reabrir, no entanto só depois de todas as dívidas estarem pagas e toda a situação regularizada é que o “Sr. Alberto” poderá abrir portas novamente.
Para Vanessa Guerra o sentimento que fica depois de todo o processo é de “realização, porque sinceramente para mim não há maior realização pessoal possível do que fazer bem aos outros”, explicou ao VivaDouro. Para Francisco Fernandes toda esta caminhada foi “muito gratificante”, sublinha no entanto que se vai “sentir mesmo bem quando estiver tudo concluído, agora ainda tenho um peso de responsabilidade grande e quando estiver tudo totalmente resolvido vou ficar muito contente”, revelou o estudante.