Movimento contra o desperdício alimentar chegou a Vila Real

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Ação de divulgação do núcleo de Vila Real
Ação de divulgação do núcleo de Vila Real

Um homem, uma bicicleta e uma grande dose de boa vontade, foram estes os ingredientes que geraram o projeto Re-Food, que tem como missão acabar com o desperdício alimentar. Depois de já se ter expandido para várias regiões do país, o conceito chegou agora a Vila Real.

Quatro anos separam o nascimento do conceito em Lisboa e a criação do núcleo da Re-Food na cidade Transmontana. Foi em Março de 2011 que o projeto arrancou, quatro anos depois já conta com vários núcleos espalhados por todo o país e as perspetivas de crescimento são enormes.

A missão é essencialmente “acabar com o desperdício de alimentos preparados e a insuficiência alimentar, aumentando a solidariedade comunitária”. Tudo começou quando Hunter Halder, um norte-americano que veio para Portugal, se apaixonou pelo país e com uma bicicleta lançou o conceito de recolha de excedentes alimentares para ajudar quem mais precisa.

O projeto tem como motor de expansão a boa vontade das pessoas e a sua vontade em ajudar, já que toda a atividade assenta em trabalho 100% voluntário, efetuado por cidadãos para cidadãos. Foi exatamente esse gosto em ajudar os outros que impulsionou a criação de um núcleo em Vila Real. “As primeiras iniciativas remontam a novembro de 2014”, conta Pedro Cardoso, um dos pioneiros do grupo.

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Pedro Cardoso, um dos pioneiros da Re-Food em Vila Real

O grupo de pessoas que iniciou o projeto começou por dinamizar reuniões em determinados pontos da cidade, com o objetivo de “criar condições e de agrupar pessoas com capacidades no sentido de fazer com que este projeto chegasse também a Vila Real”, explicou o membro da Re-Food. Em dezembro do ano passado participaram na convenção nacional da Re-Food e foi nessa altura que estabeleceram os primeiros contatos com o fundador, Hunter Halder, “verificámos um grande apoio, uma grande abertura por parte da estrutura, no sentido de apoiar esta iniciativa também em Vila Real”, revelou Pedro Cardoso.

De acordo com o membro do núcleo vila-realense, o número de “pioneiros” foi aumentando exponencialmente em cada reunião. Nos primeiros tempos eram apenas quatro os “pioneiros” que constituíam o núcleo da Re-Food na cidade transmontana, na segunda reunião passaram a ser 12 e no limite chegaram a ser 18. Foram estas as pessoas que subscreveram ao documento na manifestação de vontade à adesão da estrutura.

Pedro Cardoso sublinha o facto de esta iniciativa estar “completamente despoluída de qualquer ligação que não seja meramente social”. “A nossa única e exclusiva vontade é ajudarmos quem precisa, estarmos devidamente integrados na comunidade local, onde vamos desenvolver a nossa atividade e no fundo contribuir de alguma maneira para acabar com a carência alimentar”, acrescentou.

A implementação do núcleo obedece a várias fases, assim, a primeira etapa, que culminou no passado dia 20 de junho, na reunião Sementeira que se realizou em Vila Real, dizia respeito à fase de divulgação do projeto. Nesta fase o objetivo era “explicar às pessoas o que é a Re-Food, como funciona e as razões de existir”, declarou Pedro Cardoso. Foi também neste período que se realizou a captação de voluntários.

Com a realização da reunião Sementeira, onde foi apresentado o projeto à comunidade e formalizado o núcleo de Vila Real, houve um aumento do número de voluntários disponíveis para participar, eram pouco mais de 100 e neste momento já contabilizam na base de dados cerca de 180, no entanto, “os números mudam todos os dias”, sublinhou Pedro Cardoso. Para além dos membros já pertencentes ao núcleo assistiram à reunião mais de 140 pessoas, revelou. A Re-Food pretende ser a 1.ª associação mundial constituída somente por voluntários, com uma estrutura administrativa também apenas com voluntários.

Pedro Cardoso considera que em Vila Real a iniciativa está a ser bem recebida não só pela comunidade em geral mas também pela comunidade institucionalizada. Para além das várias iniciativas que realizam na cidade com o objetivo de recolher voluntários, recebem também várias manifestações de vontade em participar no projeto através da página de Facebook, E-mail e telefone.

Enquanto decorria o processo de divulgação do projeto, o núcleo de Vila Real fez “uma coisa que não é normal nestas estruturas”, explicou Pedro Cardoso, visto que adiantaram trabalho da fase seguinte e iniciaram contacto com algumas fontes (restaurantes, frutarias, supermercados, cantinas, padarias etc.), de forma a perceberem qual era o apoio que tinham disponível da parte destas entidades. “Foi-lhes dado a conhecer o projeto e solicitado um pré-registo de disponibilidade, que significa fundamentalmente isto: se a Re-Food abrisse amanhã que alimentos tinham disponíveis?”, contou. Algumas das entidades contactadas mostraram recetividade imediata em relação ao projeto, “essa parte foi para nós uma alegria e não foi propriamente uma surpresa porque sabemos que estas coisas da solidariedade funcionam”, declarou.

Apesar da fase da divulgação já se encontrar concluída, é uma ação que “acaba por ser transversal a todo o projeto”, confessou Pedro Cardoso. Neste momento o núcleo de Vila Real já se encontra na fase seguinte,já está oficializado e os pioneiros passam a ser denominados de gestores. Esse grupo de gestores vão gerir cinco pastas de atuação, entre as quais as relações com a comunidade e com as fontes e as operações, ou seja, a gestão do espaço, dos voluntários e a identificação dos beneficiários.

De acordo com Pedro Cardoso, o objetivo é que o núcleo esteja operacional, no limite, no primeiro trimestre de 2016. No entanto, estão a trabalhar para conseguir estar prontos antes do natal, “seria o indicado para nós, é uma época difícil para quem está nestas situações e seria uma forma de tornar o natal mais agradável para algumas pessoas”.