Miguel Anaya e Nélson Viana, ambos vogais da Federação Renovação Douro-Casa do Douro (FRD-CD) apresentaram ontem, por carta, a sua demissão em discordância com a atual direção liderada por António Lencastre.
A demissão dos dois elementos foi comunicada por carta ao Presidente da Mesa da Assembleia da FRD-CD, no dia de ontem.
De acordo com os dois documentos, aos quais o VivaDouro teve acesso, ambos os elementos justificam a sua decisão com o apoio da FRD-CD à candidatura de Leandro Macedo às eleições da nova Casa do Douro por existir “um claro conflito de interesses com a posição da Federação” que desde sempre se opôs à “reinstitucionalização da Casa do Douro, objeto, aliás, de um pedido de fiscalização da constitucionalidade”.
De acordo com os dois elementos demissionários a FRD tem ainda uma “irredutível oposição, se necessário judicial, quer à entrega do edifício sede da Casa do Douro registado predialmente em nosso nome enquanto entidade privada, quer à abdicação da propriedade do nome / designação CASA DO DOURO igualmente registado em nosso nome”.
Nas duas cartas pode ainda ler-se que apesar dos pedidos de demissão terem já sido apresentados “há cerca de um mês”, os dois elementos mantiveram “reserva do ato a pedido do Sr. Presidente da Mesa da Assembleia Geral no sentido de que encetasse diligências para a renúncia coletiva da Direção ou, pelo menos, do Dr. Leandro Macedo enquanto cabeça de lista do Movimento A Força do Douro por antagónico aos interesses da Federação Renovação do Douro, tudo conforme foi deliberado em reunião de Direção decorrida há mais de quatro meses”.
Miguel Anaya, na sua carta de demissão afirma ainda que o faz “contrariado mas seguro de que tomo a melhor decisão para o bem e o futuro da Federação”.
O vogal sublinha ainda que “ao longo dos últimos quatro ( 4 ) meses reiterei sucessivamente à Direção que, encontrando-nos nós em ano eleitoral, se dispusesse a antecipar as eleições para antes da campanha de vindimas de 2020 ou que apresentasse a sua demissão em bloco no intuito de regenerar uma direção gasta e isolada e alcançar uma nova legitimidade que só o voto democrático dos associados pode atribuir”.
De forma explicativa, Miguel Anaya apresenta ainda outros 6 pontos que justificam a sua demissão da FRD-CD, afirmando que o atual projeto diretivo se encontra “esgotado e eivado de irregularidades e disfuncionalidades”.
“1. a Federação Renovação do Douro encontra-se numa situação financeira e económica não só de extrema debilidade, com um passivo acumulado de mais de uma centena de milhar de euros, mas, essencialmente, não tem forma de se dotar de qualquer tipo de financiamento ou ajuda para ultrapassar esta situação deficitária
2. encontra-se em falta com vários meses de salários aos seus trabalhadores
3. encontra-se com os seus serviços por liquidar e em regime de cessação, como o são a energia elétrica, o clipping, etc.
4. os seus associados não se encontram dispostos a contribuir para esta Federação na atual composição diretiva – uns porque, na realidade, não podem, outros porque, deliberadamente, não querem ou entendem não dever -, porquanto, apesar de várias deliberações em Assembleias Gerais, a Direção nunca se aproximou dos seus associados e, inclusivamente, até se afastou, exercendo um mandato isolado dos seus federados
5. as decisões são tomadas num grupo reduzido e apresentadas enquanto fato consumado e, quando são dadas à discussão, dessa discussão a maior parte dos aportes são ignorados na sua essência e mantida a versão original do que é oferecido à participação
6. nesta metodologia de formação de decisões encontram-se as deliberações da produção na representação interprofissional do IVDP, mormente, as que, tomadas ao longo deste ano, não deixarei de salientar, em documento autónomo, enquanto negativas ou, no mínimo, inócuas para a produção que pretendemos e temos o dever de representar”.
Os dois vogais demissionários solicitam agora ao Presidente da Mesa da Assembleia que “se digne aprazar Assembleia Geral nos termos do Artigo 19.º, n.º 1, por remissão do Artigo 20.º dos Estatutos” com o intuito de eleger dois elementos que ocupem os lugares agora disponíveis, deixando ainda nota de que exercerão “todos os esforços para que essa Assembleia imponha a destituição da Direção e a imediata marcação de eleições”.
Contactado pelo VivaDouro o Presidente da Federação Renovação Douro-Casa do Douro, António Lencastre, remeteu para mais tarde uma reação a este pedido de demissão dos dois vogais.