

Estudo do Centro de Investigação e de Tecnologias Ambientais e Biológicas (CITAB) concluiu que 25% dos incêndios florestais acima do rio Douro ocorre duas vezes no mesmo local, num período de 10 anos. O Distrito de Viseu é aquele que apresenta um maior número de fogos, sendo que, o Distrito de Vila Real é o terceiro com mais ocorrências de incêndios.
Um em cada quatro fogos florestais a norte do rio Douro acontece em áreas já ardidas nos dez anos anteriores. A conclusão é de José Aranha, especialista do Centro de Investigação e de Tecnologias Ambientais e Biológicas (CITAB), num estudo divulgado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), no âmbito da orientação de uma tese de doutoramento, que defende que a solução passa pelo planeamento e ordenamento do território e pela instalação de florestas mistas.
De acordo com o investigador, “este estudo prova que são incêndios recorrentes e que os povoamentos monocultura, que são os mais comuns em Portugal, são mais propensos quer aos fogos, porque têm continuidade espacial do combustível, quer ao ataque de pragas florestais”.
José Aranha defende que, “do ponto de vista ambiental”, Portugal devia apostar mais em florestas mistas, já que “a presença de várias espécies de árvores fomenta a biodiversidade, o abrigo e a alimentação das espécies animais”, afirma o docente da UTAD.
O investigador considera ainda que esta medida tem vantagens no ponto de vista comercial, visto que permite obter “rendimentos financeiros desfasados no tempo e porque se poderiam reunir melhores condições para a defesa da floresta quer em termos de incêndios, quer contra pragas”, afirma. Apesar das vantagens descritas, José Aranha, explica ainda que “as florestas mistas também são muito mais dispendiosas e difíceis de manter, pelo tipo de gestão que requerem”.
O docente considera que a estratégia deve passar pela criação de modelos de cálculo de perigo de incêndios adaptados a cada região, em vez da utilização de um único modelo para todo país. Desta forma, os investigadores poderiam depositar atenções nas zonas que apresentam maior perigo, desenhando programas de ordenamento e de gestão florestal de forma a minimizarem o perigo dessas áreas voltarem a arder.
“O correto ordenamento florestal, a gestão florestal e a instalação de povoamentos com predefinição do perigo de incêndio naquela zona, permitia-nos minimizar o efeito dos fogos”, afirma José Aranha.
Mais de um terço do número total de incêndios da Europa ocorreu em Portugal
De acordo com o mesmo comunicado enviado pelo Centro de Investigação e de Tecnologias Ambientais e Biológicas (CITAB), entre 2000 e 2013, verificaram-se quase 19 mil fogos florestais nos países da Bacia do Mediterrâneo, dos quais, mais de 10 mil (53,4%) ocorreram em Portugal.
Mais de um terço dos incêndios registados em Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia, aconteceram em Portugal. No que refere a área ardida, foram contabilizados quase 3,5 milhões de hectares, dos quais 1,3 milhões (37,7%), foram em território continental.
Para Mário Gonzalez, um dos colaboradores do estudo, este é “um valor muito elevado que ainda é mais exacerbado se tivermos em conta a relativa pequena dimensão do país face aos outros países com que estamos aqui a comparar, nomeadamente com Espanha”, explica o investigador.
O estudo conclui ainda que, entre 2000 e 2013, Viseu foi o distrito que registou o maior número de fogos e o da Guarda o de maior área ardida (167,8 mil hectares). Vila Real ocupa o lugar do terceiro distrito com mais ocorrências de incêndios, tendo sido registados quase 1500 fogos. Para além disso, os dados revelam ainda que 5,5% da área ardida no distrito foi consumida três vezes pelas chamas nos últimos 10 anos.