
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2012 como Ano Internacional das Cooperativas. Foi um ano de grandes realizações por todo o mundo, de muito intercâmbio cooperativo, alguma edição de obras sobre o tema, de um apreciável número de artigos de imprensa , quiçá só publicados por se estar a comemorar aquele evento.
Cavalgando aquela oportunidade única nestes quase duzentos anos de cooperativismo moderno, a Aliança Cooperativa Internacional fez aprovar um Plano de Ação para a Década, cuja frase choque foi: em 2020 o modelo cooperativo será o modelo empresarial de maior crescimento a nível mundial.
A CASES traduziu o Plano de Ação para português, acessível no site da ACI www.ica.coop clicando em Blueprint for a Cooperative Decade e depois no ícone da língua portuguesa.
O Plano de Ação centra-se em 5 grandes áreas de atuação, entendidas como aquelas que melhor deverão ser concretizadas, evitando com isso dispersão de esforços. A saber: Participação; Sustentabilidade; Identidade; Quadro legal e Capital.
Permitam-me que comece por respigar do Plano de Ação estas duas frases:
“O ponto de partida da estratégia para um futuro cooperativo global é a reclamação poderosa feita pelas cooperativas ao mundo exterior: temos uma forma de empresa que é, a um tempo, melhor, e capaz de oferecer à economia global um maior equilíbrio face ao presente domínio de um único modelo”.
“Num mundo que sofre de um défice de democracia representativa e ditadura do curto prazo, as cooperativas demonstram como se podem fazer negócios não apenas de modo diferente, mas melhor – não apenas no seu próprio interesse, mas no do mundo. Contudo, para espalhar esta importante mensagem é necessário clarificar como se devem definir e diferenciar as cooperativas. Isso é importante para o próprio setor cooperativo, por criar um sentimento forte de identidade comum, mas é também importante que uma mensagem cooperativa identificável ou uma «marca» seja difundida, que permita diferenciar esta forma de empresa”.
Palavras a um tempo afirmativas e reflexivas, elas significam que somos melhores do que aquilo como nos vêm, mas ao mesmo tempo somos pouco capazes de explicar porque é que somos melhores, por nos faltar capacidade de chegar a um público mais amplo. Há que fazer passar a mensagem, e por esse motivo, Jornadas como aquelas que cooperativas, associações, imprensa -com destaque para o semanário para o qual escrevo – e autarquias locais realizam há mais de uma década em São João da Pesqueira, não podem deixar de ser apresentadas como exemplo às cooperativas nacionais e aos companheiros de percurso no que se reconhece hoje como economia social.
Há anos que a CASES vem acompanhando as Jornadas da Pesqueira, mas passada a X edição, não podemos mais limitar-nos a esse acompanhamento, temos de fazer bastante mais, porque temos de ser sensíveis a iniciativas do movimento cooperativo e associativo com provas dadas, iniciativas que são planificadas e concretizadas com base nas forças locais e na carolice de uns quantos dirigentes e interessados.
Por proposta dos organizadores iremos colaborar na preparação das XI Jornadas, em termos de ideias, mas sobretudo em termos de sensibilização dos leitores da Vida Económica e do Vivadouro para a problemática cooperativa e da economia social.
Iremos também procurar chegar ao maior número possível de autarcas, procurando que individualmente ou através das suas organizações representativas – que fazem, aliás, parte do Conselho Nacional de Economia Social (CNES) – emulem os colegas da Pesqueira, que de há anos a esta parte possuem verbas específicas para apoio ao desenvolvimento cooperativo e associativo no Concelho.
E iremos colocar nos ombros da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro a ingente tarefa de demonstrar o benefício de uma mais estreita ligação entre a reflexão universitária e a prática cooperativa, seja no domínio da agricultura, a mais evidente nas dez edições das Jornadas realizadas, seja em qualquer dos restantes domínios, secundário e terciário, nos quais a atividade cooperativa duriense se poderá ou necessitará desenvolver.
São já algumas as Universidades e Politécnicos nacionais que possuem pós-graduações e mestrados sobre cooperativismo e economia social. A CASES aspira a que mais o façam, e vem apoiando algumas iniciativas nesse sentido, de que é exemplo a instituição de uma Prémio específico dentro do mais amplo Prémio António Sérgio, o nosso patrono.
Sabemos que é difícil. Já o era nos anos 50 do século passado, quando Sérgio delineou os principais objetivos a atingir pelo setor cooperativo e usou a imprensa escrita, o Boletim Cooperativista (hoje totalmente acessível no site da CASES www.cases.pt, clicando Biblioteca Digital António Sérgio), para os divulgar. Um era o ensino do cooperativismo nas escolas, algo que ainda hoje se não faz, chegando a esmagadora maioria dos jovens portugueses a nunca serem informados sobre a alternativa cooperativa ao modelo capitalista de organização empresarial. O papel das Universidades empenhadas servirá de chamariz a que outras mais arrepiem caminho, e olhem para a realidade cooperativa com olhos hodiernos.
Regressemos às citações do Plano de Ação Cooperativa para a Década aprovado pelos cooperadores mundiais representados na Aliança Cooperativa Internacional, pois ele fala melhor e com mais autoridade dentro da linha que estamos a desenvolver. Escreve-se no capítulo sobre a Identidade cooperativa:
“As cooperativas devem pensar sobre como são compreendidas, e como se projetam e comunicam com os jovens (pela minha pena acrescento, com especial ênfase para os jovens universitários). Garantir o seu interesse e compromisso positivo só pode ser alcançado se forem compreendidas as mudanças na forma de comunicação e estabelecimento de relações entre eles usando tecnologia e media sociais. As relações humanas estão no cerne da cooperativa. Os jovens precisam de ajudar a moldar a identidade e as mensagens.
As cooperativas devem refletir também sobre o modo como são compreendidas pelos não membros e meios especializados. A emergência de termos como ‘empresa social’, ‘responsabilidade social das empresas’, propriedade dos assalariados’, ‘inovação social’, ajuda à confusão que reina em torno da diferença real que uma cooperativa faz. As cooperativas não são muitas vezes vistas como suficientemente distintas para serem tratadas de modo diverso em questões como a regulação. A mensagem necessita por isso de gestão, se for pretendido que funcione no interesse das cooperativas a longo prazo”(em ulteriores colaborações poderemos desenvolver melhor esta cacofonia terminológica).
E lembrando Sérgio, “o ensino das ideias e tradições cooperativas deve ser incluído nos currículos de todos os graus de ensino. A educação cooperativa é a melhor forma de construir uma compreensão da identidade e mensagens cooperativas pela maior possível massa de indivíduos.
Programas de formação são necessários para explicar a identidade cooperativa aos futuros dirigentes. Tal deve fazer parte de uma mais ampla promoção da identidade cooperativa nas escolas de gestão e nas organizações profissionais. Investigação e desenvolvimento de teorias, conhecimento e ideias deveriam ser promovidas e alargadas, pondo a colaborar gestores, práticos e académicos.”
Termino uma vez mais com o exemplo da Pesqueira. As Jornadas só se fazem porque um núcleo duro de cooperativas as assumiu e concretiza. Mais, muito me tenho alegrado ao verificar que a nível comercial já desenvolvem marcas comuns entre as cooperativas do núcleo base, havendo agora que prosseguir nessa senda. Para tal a CASES poderá ser útil, já que está encarregue de concretizar o projeto da Base de Dados cooperativa, que permitirá apoiar estudos de expansão ou redimensionamento cooperativo nos próximos anos.
E volto a citar a ACI, para que possam verificar que o caminho que se segue não é irrealista:
“A solidariedade entre cooperativas tem de ser reforçada, levando as cooperativas maiores a por de lado parte dos seus resultados para apoiar o desenvolvimento de novas e pequenas cooperativas”. Acrescento, e a criar sinergias entre cooperativas e demais organizações de economia social, em estreito contacto, e com o apoio, das instituições do poder público local e regional.
Mãos à obra, pois, concretizando umas XI Jornadas com temas de interesse local, mais participadas, e mais amplamente difundidas. Não esqueçamos o interior e todas as iniciativas que podem permitir um desenvolvimento nacional equilibrado e a criação de emprego através do setor cooperativo e social constitucionalmente consagrado.