De Rolls-Royce com bandeira vermelha

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Por Emídio Gomes, Prof. Catedrático da UP e Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte

Sou um admirador convicto de muitas pessoas da chamada geração do Maio de 68 que, mantendo um profundo e enraizado sentido de justiça social, são exemplo de humildade, ética, partilha dedicada e cooperação. Sem sofismas, com lisura e respeito por cada pessoa enquanto valor sagrado. Revejo-me em muitas destas posturas e valores, em especial em tudo o que concerne às políticas em áreas como a educação e a saúde, que considero direitos fundamentais que as políticas públicas de um estado devem assegurar a cada cidadão.

Mas tenho o maior desprezo pelos tiques de diletantismo militante que uma certa intelectualidade radical nos faz entrar pela porta dentro em cada dia. Não aprecio de todo os tiques de falsa informalidade do ministro Varoufakis, nem as suas chegadas em moto potente ao conselho de ministros ou ao parlamento, onde se senta no chão ao lado dos deputados, com um ar de estúpida e ridícula superioridade. Porque tudo isto é falso e, na maioria das vezes, apenas esconde incapacidade e incompetência. Por isso também não considero quem por cá dá opinião negativa sobre tudo e mais alguma coisa, com um ar de suposto desprendimento e enfadonha superioridade, que mais não é do que alibi para muitas vezes esconder uma boa quantidade de frustrações ou problemas mal resolvidos. Porque, ao contrário que se possa pensar, este tipo de pessoas não quer uma solução para nada, antes se alimenta de tudo o que possa ter carga negativa perante a opinião pública.

Por isso não alinho na atitude fashion de dissertar sobre a filosofia dos “syrizas”, porque tudo aquilo me parece vazio de conteúdo e cheio de oportunismo. Da mesma forma que não valorizo textos e oratórias inúteis, que na impossibilidade de serem minimamente entendíveis alguns classificam de “ensaios”.

Sobretudo porque valorizo sempre e cada vez mais o trabalho sério em cada dia, a partilha do bem comum como um ato corrente de estar em sociedade. Mas cada vez com menos paciência para aqueles que, dizendo mal de tudo e todos, sonham em cada noite com o seu momento de glória em que se passeiam de rolls-royce agitando ao vento uma bandeira vermelha.