Fascínio pelas Plantas

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Fascínio pelas Plantas

Pediram-me para falar do fascínio das plantas e confesso que não me sinto à vontade, pois, depois de muitos anos, julgo que fracassei redondamente na tentativa constante de transmitir a minha admiração e paixão pelas plantas. Passado este tempo, continuo a ouvir perguntas que não consigo compreender. Qual é o nome desta planta? Quantas espécies tem a minha região? São só exemplos do meu fracasso estrondoso, pois a reação que tenho perante estas interrogantes é sempre a mesma: não sei e, francamente, não estou interessado em saber. Algo ordinário, não acham? Mas nunca fui um exemplo de educação e cortesia, se calhar pela minha total incompetência enquanto tento transmitir o pouco que consigo compreender do que as plantas me contam.

Não, as plantas, como qualquer outro grupo biológico, não têm qualquer interesse em saber se formam parte de uma ou outra espécie. Sendo assim, resulta igualmente óbvio que não estejam minimamente preocupadas em saber se são muitas ou poucas espécies numa região qualquer. Algo assim só parece ser relevante para nós, embora também não consigo compreender a razão dessa ansiedade humana pelos números de espécies. Para entendermos tal desprezo pela identidade, tão bem encenado pelas plantas, convido os que me estejam a ler a um passeio por um dos muitíssimos percursos que atravessam as paisagens agrícolas durienses. Grande parte dessa flora que cobre as margens do percurso foi introduzida pelos nossos antepassados, desde o Paleolítico Superior, de modo que estamos perante procedências muito diversas e, portanto, histórias igualmente diferentes. Contudo, entre todas elas há uma sincronização funcional esplendorosa. Cada uma dessas tais espécies (insisto, designação esta rigorosamente técnica que não quer dizer coisa alguma, mas que tecnicamente é muito útil para nós) adquire uma morfologia própria, de modo a que entre todas seja desenvolvido um sistema funcional, no qual se aproveita, o mais possível, a energia que esse sistema absorve. Através da captação energética de todo esse conjunto de indivíduos, o resultado final é um banco de sementes de uma variabilidade tal que, independentemente das condições ambientais serem propícias ou não, é uma garantia perene da existência de indivíduos que proporcionem perpetuidade e funcionalidade a esses sistemas. De modo a verificarmos como este esforço pode garantir funcionalidade só peço que acompanhem a distribuição das plantas ao longo do nosso percurso. Reparem como há uma preocupação constante por desenvolver uma geometria dinâmica, perfeitamente pensada e planificada de acordo com as aptidões ambientais que esse caminho apresenta (zonas mais secas ou mais húmidas, mais expostas ao sol e sob coberto, com solo mais profundo ou quase sem ele…). Curiosamente, é essa conjugação entre a diversidade de formas e a sua distribuição que nos leva a pensar, inevitavelmente, na existência de diferentes espécies. Porém, e contrariamente ao que poderíamos imaginar, tantas formas são o resultado de um verdadeiro exercício de “copianço” descarado. O resultado é um quadro absolutamente diverso e absolutamente contínuo (copiar homogeneíza, como muito bem sabemos), mas garanto-vos que tal aparência está sustentada num efeito visual com fins exclusivamente funcionais, muito longe desse quadro de riqueza específica que tanto nos obceca.

Sim, copiar é uma arte difícil, pois implica fazer batota sem que os que estejam à nossa volta reparem nisso. Como docente, convido, todos os anos, as minhas alunas e alunos a exercitarem as suas capacidades de copiar os colegas. Há uma regra, contudo, que deve ser respeitada sem discussão: se consigo detetar a fraude, as consequências serão desastrosas. Sendo assim, quem copie deve não só não ser detetado nessa tarefa, ao mesmo tempo é obrigado a aplicar sua imaginação e criatividade para evitar ser alvo da fúria avaliadora do sistema (neste caso protagonizado pela minha pessoa). Um exercício como este é da maior relevância para proporcionar continuidade funcional ao sistema e, desta forma, atingir o aproveitamento desejado. De facto, copiar e aparentar que o trabalho realizado foi original é algo realmente admirável, não acham? Pois para isso nossas amigas as plantas são verdadeiras fanáticas da arte do copianço.

Ao longo de muitos anos, estive a analisar a capacidade de copiar que as plantas têm. O resultado foi uma fascinação total pelo mundo vegetal, uma vez que, através desse esforço funcional, é garantido o funcionamento de qualquer ecossistema. Só por isso, admito estar absolutamente rendido a estas fascinantes mentirosas.