As autárquicas estão aí. Lá para fins de setembro, início de outubro, os cidadãos vão escolher.
As diferentes dinâmicas partidárias ou de cidadãos vão apresentar-se a eleição. Um momento nobre e carregado de simbolismo democrático.
Durante a apresentação aos cidadãos que vão fazer as escolhas, as forças mostram, ou deviam mostrar de forma muito clara, os seus projetos ou programas que se propõem realizar naquele concelho ou freguesia. Estes programas deveriam ser colocados em lugar público e de fácil acesso. Durante a campanha, mas permanecerem durante todo o mandato. Os programas deveriam ser documentos “sagrados”.
Vulgarizámos a eleição, manipulando o povo com generalidades em folhetos de ocasião.
Depois da eleição, quem fica no poder acha-se desvinculado dos compromissos de campanha. Quem fará o papel democraticamente importante de oposição, abandona o seu programa e raramente escrutina de forma adequada o de quem está no poder.
Parece, este meu texto, um lugar de irrelevâncias. Mas, é a democracia que se vai rasgando e fragilizando quando rasgamos e colocamos no lixo os compromissos eleitorais.
Quando será que percebemos que a democracia vive de verdade e honestidade? De ética e valores? De clareza e previsibilidade das opções do governo local e das posturas límpidas e ativas das oposições?
Não, não ficamos mandatados para fazermos o que bem nos apetece. O povo, os cidadãos, não dão, temporariamente, o poder para tudo. A democracia representativa só se realiza com os valores da responsabilidade, da transparência e da constante auscultação e avaliação do povo. Há até opções que exigiriam a possibilidade legal do referendo local.
Sejamos democratas, começando por conceber projetos ou programas eleitorais consistentes, com a participação da cidadania e o mais pormenorizados possível.
E, depois, fazer desses programas, o guia para as nossas opções no poder ou para as nossas intervenções na oposição.