A importância da vacinação na saúde da população mundial é inquestionável. Na recente pandemia foi evidente o impacto que a vacinação teve no controlo da infeção e sobretudo na diminuição da gravidade dos casos.
Recuando um pouco no tempo, a primeira implementação, à escala mundial, de uma vacina aconteceu em 1956, com a da varíola. Atualmente o Programa de Nacional de Vacinação (PNV), comtempla vacinas que conferem proteção contra 13 patologias/infeções. A modificação do estado imunitário da população altera a epidemiologia e a apresentação clínica das doenças, por isso o PNV é atualizado em função desta evolução e da disponibilidade de novas vacinas. A última atualização do PNV aconteceu em 2020 com a introdução da vacina contra a doença invasiva por neisseria meningitidis do grupo B e com o alargamento, ao sexo masculino, da vacina do Papiloma Vírus Humano (HPV).
As vacinas previnem doenças que, de outro modo, poderiam causar graves problemas de saúde, incapacidade permanente ou mesmo a morte. Muitas doenças infeciosas são atualmente extremamente raras graças à vacinação, o que leva a que, por vezes, nos esqueçamos das consequências negativas dessas doenças. Se as pessoas deixarem de ser vacinadas, muitas dessas doenças podem ressurgir, podendo mesmo evoluir para surtos. Exemplo disso é o caso do sarampo, que foi praticamente eliminado em muitos países da Europa e que desde 2016 se tem observado o ressurgimento em alguns países, devido precisamente ao declínio das taxas de cobertura vacinal. Portugal não foi exceção e também em 2018 teve um surto de sarampo com a notificação de 112 casos em apenas 2 meses. Também nessa altura e segundo um relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC), em abril de 2018, tinham sido notificados 1708 casos de sarampo na região europeia, com a Itália e a Alemanha a revelarem um aumento particular dos casos.
Apesar dos anos atípicos que vivemos (2020/2022), e num tempo de novas exigências impostas aos serviços de saúde, a nível local (Aces Douro Norte – ACeS DN) foram desenvolvidos todos os esforços para que o PNV fosse mantido, por forma a evitar uma ainda maior disrupção, caso as doenças atualmente controladas ou eliminadas deixassem de o estar. Assim, as taxas de cobertura vacinal referentes a vacinas incluídas no PNV não sofreram alterações significativas. Tanto a nível nacional, como a nível do ACES DN as taxas de cobertura vacinal mantiveram-se elevadas com valores acima dos 95% para cada vacina. Apenas taxas de cobertura vacinal muito elevadas permitem obter imunidade de grupo.
A Semana Europeia de Imunização, que este ano se comemora de 23 a 29 de abril pretende aumentar a conscientização sobre a importância da imunização na prevenção de doenças e na proteção da vida. A campanha deste ano tem como principal objetivo melhorar a aceitação de vacinas no contexto da Agenda Europeia de Imunização 2030 e colmatar o retrocesso global nas taxas de vacinação devido à pandemia de COVID-19. Estas iniciativas pretendem sensibilizar profissionais e utentes sobre a importância que as vacinas têm no controlo, eliminação e irradicação de algumas doenças. Em Portugal, e após 58 anos de implementação do PNV, a diminuição significativa dos casos das doenças alvo da vacinação é uma realidade. Com a sua robusta implementação conseguiu-se a eliminação da poliomielite, da difteria, do sarampo autóctone, da rubéola e do tétano neonatal. Foi possível ainda controlar 7 doenças: o tétano, a meningite por Haemophilus influenza b e a meningite por meningococo C, hepatite B, parotidite epidémica, tosse convulsa e tuberculose. A expectativa é que brevemente se consiga também o controle sobre infeções causadas pelo vírus do Papiloma Humano e pela bactéria Streptococcus pneumoniae.
Está nas nossas mãos manter as excelentes taxas de cobertura vacinal, evitando o reaparecimento de “velhas” infeções. As vacinas podem salvar vidas.