O VivaDouro acompanhou um dia na apanha da maçã, em Armamar e em Moimenta da Beira. Os produtores afirmam que este ano o fruto é de “boa qualidade”, sendo que as chuvas dos últimos dias não afetaram muito a produção.
O dia começa cedo na apanha da maçã. Maria do Carmo Almeida, produtora de Armamar, começa a juntar os trabalhadores nos pomares por volta das oito horas da manhã. Há mesma hora, em Moimenta da Beira, Acácio de Jesus Fonseca, também produtor independente, põe mãos à obra, juntamente com a sua família, já que para este agricultor, “não compensa contratar pessoal para trabalhar”, visto ter uma área de plantação pequena.
“Este ano há mais produção do que no ano anterior, em questão de calibre, a colheita também está a ser mais favorável”, explicou Maria do Carmo, depois de ter orientado os trabalhadores para o início da colheita.
Também para Jorge Augusto, proprietário da empresa “Maçã BemBoa”, em Armamar, a colheita deste ano está a ser positiva, “apesar de alguns constrangimentos como a falta de água em alguns pomares, aliada ao facto de se terem verificado temperaturas bastante elevadas na fase de crescimento dos frutos, tudo indica que a qualidade de produção é bastante melhor”, explicou ao VivaDouro.
“O que mais precisávamos foi o que menos veio, a chuva”, desabafou Acácio de Jesus Fonseca, no entanto, o produtor considera que tendo em conta as circunstâncias, “a qualidade da maçã não foi muito afetada”.
“Apesar do tempo os portugueses vão ter maçã de grande categoria”
Com um verão predominantemente seco, as fortes chuvas que se têm feito sentir nos últimos dias fez com que, “as colheitas tenham ficado um pouco atrasadas”, explicou Jorge Augusto. “Em algumas variedades pode prolongar a colheita para além do período ótimo de maturação comercial dos frutos, diminuindo o poder de conservação dos mesmos. Em variedades mais tardias a chuva até ajudou a aumentar um pouco o calibre e a coloração”, acrescentou o empresário.
“Em resumo, a precipitação que ocorreu pecou por ser tardia e veio acompanhada de fortes rajadas de vento, o que provocou alguma queda de frutos”, afirmou Jorge Augusto. Para Acácio de Jesus Fonseca, esta foi uma das principais dificuldades que sentiu na colheita até ao momento, “as maçãs que caem e ficam machucadas, quando vêm para a fruteira já não têm valor comercial, o que nos dá prejuízo”, constatou o produtor.
No entanto, João Silva, presidente da Cooperativa Agrícola do Távora, garante que “apesar do tempo os portugueses vão ter maçã de grande categoria”, afirmou ao VivaDouro.
As colheitas iniciam em agosto com a maçã Gala
Geralmente, as colheitas duram cerca de dois meses, tendo início em agosto, nos clones da variedade Gala. Durante o mês de setembro e início de outubro, “colhem-se as variedades de meia estação como a Golden, vermelhas do grupo Red Delicious, Reinetas e Bravo de Esmolfe. Por fim efetua-se a colheita da Fuji, variedade tardia de introdução mais recente mas já com alguma expressão na região de Armamar”, afirmou Jorge Augusto.
Nesta altura do ano, os produtores necessitam de recorrer à contratação de mão-de-obra extra, para a colheita da maçã. Maria do Carmo Almeida contrata cerca de 20 pessoas por dia, sendo que paga 30 euros a cada um deles. “Só no dia de hoje vou gastar por volta de 600 euros em pessoas para trabalhar”, revelou a produtora, ao explicar que a “despesa ao fim do ano é muita”.
No pomar de Maria do Carmo Almeida e do marido, Vítor Almeida, existe distinção monetária entre o trabalho de um homem e de uma mulher, “penso que o trabalho do homem é mais cansativo, visto que passa o dia a subir e a descer o escadote”, explica.
Na opinião de Acácio de Jesus Fonseca, é mais fácil haver mulheres disponíveis para este tipo de trabalho, do que homens. Por sua vez, Maria do Carmo Almeida, sentiu que na época da crise não houve tanta dificuldade em arranjar pessoas dispostas para trabalhar.
Qual é o destino das maçãs depois da colheita?
Após a colheita, o destino das maçãs é diversificado e depende de cada produtor. Enquanto uns comercializam o próprio produto, outros entregam essa tarefa às cooperativas ou vendem diretamente a uma empresa que trata de escoar ao público.
Com uma produção que ronda as 300 toneladas, Maria do Carmo vende toda a produção que realiza para uma empresa do concelho, que por sua vez vende para outras entidades que exportam o produto.
Já Acácio de Jesus Fonseca vende a produção, por inteiro, à Cooperativa Agrícola do Távora. “Antes ainda se vendia a alguns comerciantes, agora já não, só as cooperativas é que estão a funcionar”, afirmou.
João Silva, presidente da cooperativa, considera que os agricultores têm vários benefícios com a existência das cooperativas. “A primeira vantagem é que desta forma os agricultores não se encontram isolados, têm garantia de escoamento do seu produto, têm a certeza que o produto é pago a um preço aceitável, portanto a grande vantagem de estarem ligados a uma estrutura é terem a certeza de um acompanhamento técnico”, referiu.
Na empresa Maçã BemBoa, a produção de maçã este ano ronda as 350 toneladas, sendo que com o produto que será entregue na empresa por outros produtores, Jorge Augusto espera comercializar cerca de 2.000 toneladas na atual campanha.
O mercado nacional é o principal destino da Maçã de Armamar e Moimenta da Beira
Em Armamar, existe todos os anos uma produção de aproximadamente 60.000 toneladas de maçã, o que, de acordo com Jorge Augusto, também membro da Associação de Fruticultores de Armamar, equivale a cerca de ¼ da produção nacional deste fruto.
“A produção de maçã em Armamar tenderá a aumentar significativamente a curto prazo, dado o aumento das áreas plantadas de macieiras, bem como a renovação de pomares que se tem verificado, aliado ao facto da crescente especialização dos produtores e da introdução de novas tecnologias de produção”, afirmou o proprietário da Maçã BemBoa.
O mercado nacional é o principal destino da Maçã de Montanha de Armamar, “temos, por intermédio uma empresa exportadora, que tem colocado vários contentores em países Africano e na América Latina”, explicou Jorge Augusto. “Esperamos que esta campanha que iniciou agora seja finalmente a rampa de lançamento para a exportação, pois a maçã de Armamar tem todas as características para ter sucesso no exterior”, rematou.
Em Moimenta da Beira cerca de 80% da maçã produzida é comercializada em território nacional, “neste momento estamos também a exportar para a Colômbia, o Chile e Dubai”, explicou João Silva, “de vez em quando vendemos também para a Inglaterra e Irlanda”, acrescentou.
O público-alvo dos produtores de maçã em Moimenta da Beira não se encontra no concelho, “o município não tem grande impacto no negócio da maçã porque toda a gente tem produção e o negócio é assim relativamente pequeno”, disse João Silva.
De acordo com Jorge Augusto, o facto de os pomares de macieira em Armamar estarem instalados a cotas de altitude que variam entre os 500 e os 800 metros, “permite obter frutos com características únicas”, afirmou. “O resultado são maçãs com bom teor de açúcar, com dureza elevada e uma acidez moderada, o que as torna mais saborosas, aromáticas, crocantes e suculentas”, assegurou.
Na opinião de João Silva, as maçãs de Moimenta da Beira são, “produtos de excelência, onde uma maior amplitude térmica, a exposição solar, o calor e o frio que fazem toda a diferença. Tudo junto faz a excelência do fruto”, concluiu.