
Bisarro. É este o nome do projeto desenvolvido por dois jovens empreendedores que pretende dar um novo fôlego à Olaria de Bisalhães, atividade que foi recentemente inscrita na lista de Património Mundial da Unesco.
O nome Bisarro deriva, assim, do Barro de Bisalhães, arte que deu o mote para a realização deste projeto que alia a tradição à modernidade ao redesenhar as peças traicionais com um design inovador.
“A nossa principal preocupação é dinamizar esta arte que está em vias de extinção e perceber onde é que o Design pode intervir para a transformar”, explica Daniel Pera, um dos cofundadores da empresa.
O Bisarro começou por ser um projeto na área da ilustração pensado por Renato Rio Costa, em âmbito académico. Posteriormente, os dois “designers” encontraram-se na SPAL, empresa nacional de porcelanas, de onde saíram e iniciaram o seu próprio negócio.
Assim, Daniel Pera juntou-se a Renato Rio Costa e iniciaram este projeto que quer dar um cunho de modernidade à ancestral Olaria de Bisalhães, que remonta, pelo menos, ao século XVI.

Nesse sentido, os dois jovens já criaram uma coleção de louça de barro negro, com cerca de 15 peças utilitárias, que se distinguem pelo “design inovador”.
“A essência do Bisarro é criar novas oportunidades e novos rumos comerciais para esta arte, temos que criar peças ajustadas ao mercado”, explica Renato Rio Costa.
“Queremos tornar estas peças utilitárias, vendáveis e ajustadas ao mercado atual, a tradição e as peças tradicionais têm de ser mantidas. A nossa visão é pegar nesta tradição, reinterpretá-la e olhar para o futuro”, acrescenta Daniel Pego.
Entre taças, jarros, cafeteiras, bules, chávenas de chá e de café ou castiçais, várias são as peças produzidas pelo Bisarro que brevemente estarão à disposição do público numa plataforma “online”.
“Contamos ainda este mês lançar a loja online com sistema de pré- encomenda para as pessoas mostrarem interesse, vai ser o nosso primeiro ponto de contacto com o público”, revela ao VivaDouro Daniel Pego.
No entanto, apesar de a coleção ainda não ter sido oficialmente lançada, o Bisarro já teve “bastantes contactos” de potenciais clientes, não só no mercado nacional mas também além-fronteiras. “Temos já algumas empresas interessadas em exportar o nosso produto para países como o Canadá, os Estados Unidos e o Reino Unido, isso dá-nos força e motivação para continuar”, afirma Daniel Pego.
A primeira coleção é de peças utilitárias, mas os jovens designers estão já a estudar novas soluções e propostas que passam pelos setores da hotelaria e decoração. O Bisarro encontra-se também a apostar na conjugação do barro negro com outros materiais, nomeadamente a cortiça e a madeira.
Para além do mercado nacional, a exportação vai ser igualmente uma das apostas de futuro para o Bisarro. “Um dos nossos pontos de foco vai ser a exportação porque acreditamos que este Barro tem muita procura lá fora”, explica Daniel Pego.
“As pessoas interessam-se muito pelo fabrico e pela tradição que o produto tem e nós não queremos só vender o projeto, queremos também contar histórias”, acrescenta o jovem designer.
Desta forma, a participação na Feira Ambiente de Frankfurt, na Alemanha, em fevereiro do próximo ano, será a “altura ideal” para a apresentação internacional do Bisarro.
Este evento é uma das maiores feiras mundiais dedicadas aos bens de consumo. O Bisarro integra os cerca de 20 projetos a nível mundial que venceram o concurso lançado pela organização, com o objetivo de apoiar novos projetos empresariais.
Jovens trabalham em conjunto com oleiros
Na aldeia de Bisalhães os oleiros em atividade já são poucos, cerca de cinco, todos com mais de 75 anos. Esta foi uma das dificuldades sentidas por Daniel Pego e Renato Rio Costa na concretização do projeto, uma vez que no início os oleiros se mostraram “um pouco desconfiados” relativamente às intenções que os jovens tinham com este projeto.
“Agora já estamos a ter mais aceitação da parte dos oleiros. Quando começaram a ver que estamos mesmo interessados a postura foi mudando”, revelou Daniel Pego.
Mas é com Manuel Tapada, um novo oleiro, do projeto DouroUp, que Daniel Pego e Renato Rio Costa trabalham mais de perto, uma vez que é quem assegura a produção.
“Para nós tem sido muito bom porque ele consegue responder às nossas necessidades e acompanha muito o nosso pensamento”, afirmou o jovem designer.
Com a certificação do Barro de Bisalhães como Património Mundial da UNESCO, os jovens do Bisarro acreditam que “além da divulgação e projeção que já deu esta certificação vai despoletar alguns apoios na salvaguarda desta olaria”.
No futuro, numa perspetiva a curto prazo, os jovens pretendem ajudar na formação de novos oleiros, com vista a “manter viva a tradição”, mas também implementar o interesse por esta arte em outros jovens designers.
Nesse sentido, já se encontram a trabalhar em conjunto com alunos de mestrado da Universidade da Beira Interior, que estão a desenhar peças de barro negro no âmbito de um projeto académico.
“Não é só importante criar novos oleiros mas também novos designers, é a fusão destes dois que vai dar as ferramentas necessárias para projetar esta olaria em Portugal e lá fora, para criar valor acrescentado a esta olaria”, concluiu Daniel Pego.