

A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro está a desenvolver, em conjunto com a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Tarouca, o projeto “Pela Vida de quem dá a vida”, com o qual pretende contribuir para a minimização do risco de vida a que os bombeiros são submetidos em situação de combate a incêndios em ambiente florestal.
“O ponto de partida é tentar perceber quais é que são as solicitações energéticas que os Bombeiros utilizam em situação de combate de incêndios”, explica ao VivaDouro Rui Marcelino, investigador da universidade transmontana.
O projeto é dividido em duas fases distintas, a primeira decorreu no verão de 2015, onde os bombeiros foram monitorizados na realização de atividades simuladas de combate a incêndios florestais.
Durante estas atividades todos os elementos foram continuamente monitorizados com cárdio-frequencímetros (registo da frequência cardíaca) e com dispositivos de localização individual (GPS). Foram igualmente recolhidos os níveis individuais de hidratação corporal (através da análise de urina antes e após as atividades). Estes dados foram utilizados para a caracterização individual dos perfis de solicitação energética/fisiológica de cada um dos bombeiros.
A segunda fase irá realizar-se nos meses de julho e agosto, onde a equipa do Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano (CIDESD) da UTAD, irá estar em permanência com os Bombeiros de Tarouca, “a intenção é durante o momento intermédio do combate voltarmos a recolher todos os dados, estamos expectantes de que vamos conseguir ter dados desta vez em contexto real”, afirmou o investigador.

Concluída a primeira fase do projeto, Rui Marcelino sublinha que a equipa ainda não dispõe de “dados suficientes para tirar conclusões determinativas”, no entanto, houve uma primeira conclusão que despertou o interesse dos investigadores, “conseguimos perceber que alguns elementos mesmo em contexto simulado andam muito perto dos seus níveis máximos no que diz respeito à frequência cardíaca, estão a treinar e mesmo assim já estão num esforço físico que lhes impediria numa situação de emergência de reagir mais rapidamente”, explicou.

Hugo Sarmento, Bombeiro em Tarouca e responsável do projeto na corporação, realça que existe “pouco estudo nesta área”, uma vez que “os bombeiros não conhecem o seu próprio corpo e o esforço que lhes é requerido e por isso pretendemos que conheçam melhor a sua capacidade e os seus limites para evitar alguns dos problemas que muitas das vezes surgem em combate”, disse ao VivaDouro.
Na opinião do Bombeiro, apesar de a primeira parte do projeto ter sido “exploratória”, acabou por ser “positiva porque permitiu perceber que mesmo em situação simulada atingem o pico das suas capacidades, alguns estavam mesmo no limite e não têm noção disso”.
“Muitos dos bombeiros já saem do quartel com níveis de hidratação inferiores ao desejado e quando voltavam ainda estavam piores”, acrescentou.
De acordo com Hugo Sarmento, a adesão da corporação ao projeto foi “bastante positiva”, na opinião do Bombeiro Voluntário, já “começa a haver uma consciência em que eles sabem que têm que se proteger”.

Dina Castro, Bombeira Voluntária há cinco anos, ficou surpresa e com vontade de participar no projeto, “não tínhamos noção dos resultados ou que muitas das vezes saíamos daqui já desidratados. Quando toca a sirene a nossa adrenalina fica no máximo mas não sabia que só esse simples facto levaria a uma desidratação”, desabafou.

Também Carlos Badajoz, Bombeiro a participar no estudo, achou o “projeto muito interessante” desde o início, “não estamos habituados a fazer o trabalho neste âmbito, por isso quando nos convidaram foi ótimo, esperamos que os frutos aqui recolhidos sejam importantes para o futuro”, confessou.
Na opinião de Rui Marcelino, “este projeto tem tido um efeito muito benéfico no imediato para as pessoas que estão a participar, eles têm uma consciência muito mais presente daquilo que realmente estão a passar e daquilo que pode acontecer se eles não adotarem estratégias mais ou menos seguras”.
Com um financiamento de três mil euros, provenientes de um concurso da Câmara Municipal de Tarouca, este é um “estudo pioneiro a nível internacional na monitorização de comportamentos coletivos”, explica o investigador da UTAD.
Rui Marcelino revela ainda que têm o objetivo de alargar o âmbito geográfico do projeto, “a pretensão é estender isto a nível nacional”, afirmou.