Vinho do Porto: mercado interno compensa quebras na exportação

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Segundo dados divulgados este mês, em 2017, o mercado nacional superou a França como primeiro mercado consumidor de Vinho do Porto, pondo fim a um reinado de 54 anos.

2017 foi um ano de queda para as exportações de Vinho do Porto, em volume e valor. No ano passado foram exportadas menos 150 mil caixas do que em 2016 (-3%), já no que diz respeito ao valor, a quebra é de cerca de dois milhões de euros, ficando nos 255 milhões. Contudo a receita global do setor cresceu 2%, terminando com 322 milhões de euros, muito à custa do mercado interno que teve um crescimento de 10%, em valor, gerando um total de 65 milhões de euros.

Nos dados agora apresentados a grande novidade é o fim da hegemonia do mercado francês que, desde 1963 (ano em que ultrapassou o mercado britânico), era o principal mercado para o Vinho do Porto, perdendo o lugar para o mercado nacional.

Portugal e França valem cada um, um quinto da receita. Mas, fica claro que em 2018 o mercado português se consolidará como campeão de vendas. No que diz respeito ao volume, a liderança da França permanece incontestada (1,9 milhões contra 1,2 milhões de caixas).

Analisando a evolução do consumo nos últimos 10 anos pode concluir-se que a ultrapassagem era inevitável. As vendas em Portugal aceleraram a partir de 2011, enquanto as exportações para França registam um gradual e persistente declínio, em oito anos a receita caiu cerca de 13 milhões de euros. Tendência que se confirmou em 2017, com a França a cair novamente, 6% em valor e 7% em volume.

António Saraiva, presidente da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP) classifica como “muito preocupante” a queda persistente do mercado francês, um “mercado em que o vinho do Porto desfruta de grande notoriedade, mas sofre com a imagem de ser um aperitivo de baixo custo, com uma clientela envelhecida”.

 

Em declarações à imprensa, Manoel Cabral, presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), considera este um “momento histórico” tendo em conta a vocação exportadora que sempre marcou este setor da economia, contudo afirma também que os agentes do setor e o próprio instituto “estão atentos” à evolução do mercado, apostando numa estratégia promocional que conceda uma novo posicionamento no mercado, através “da valorização do produto, novos momentos de consumo e a sedução das gerações mais jovens”.

Segundo os produtores, uma das principais razões apontada para este crescimento de Portugal, no consumo de Vinho do Porto, é o crescimento do turismo, em especial no Porto e Douro. Contudo, este fator pode também estar a deturpar os resultados, uma vez que o vinho comprado pelos turistas nas suas visitas a caves e adegas entram para o total nacional, a título de exemplo, as caves de Vila Nova de Gaia recebem mais de um milhão de turistas anualmente.

Manoel Cabral não contraria este argumento, contudo salienta que os portugueses procuram consumir mais Vinho do Porto pela “história e portugalidade que carrega”, preferindo “categorias de maior qualidade e preço médio mais elevado”.

IVDP e AEVP estão de acordo quanto ao que é necessário fazer para recuperar o dinamismo do setor, para ambos os organismos é preciso conquistar agentes comerciais e líderes de opinião, promovendo “campanhas para seduzir novos públicos, programas dirigidos sommeliers com propostas de harmonizações e um esforço para impor as categorias especiais”.

Olhando ainda para os resultados apresentados podemos ver que Rússia (53%) Brasil (19%) e Polónia (15%) foram os mercados externos que mais cresceram em 2017. Já no top 10 dos mercados, e à semelhança do nacional, também Reino Unido, Estados Unidos e Canadá mostraram um crescimento assinalável.

Outra evidência é que os cinco principais mercados consumidores deste produto têm vindo a perder força, perdendo cerca de 10% da fatia de mercado, reflexo da maior diversidade de mercados.

A consolidação dos mercados russo e polaco são uma boa notícia para o setor, já no outro extremo fica o Japão que desiludiu nos números finais apresentados. Ainda na Ásia, a China é um mercado apetecível pelos milhões de consumidores que ali existem, no entanto o maior país do mundo ainda não aparece no top 25. Para Manoel Cabral este “é um mercado de paciência e investimento”.

Em queda parecem também estar os mercados nórdicos, Suécia, Noruega e Finlândia registaram uma queda acentuada, salvando-se apenas a Dinamarca que aumentou as vendas em cerca de 6%. Para o presidente o IVDP esta é “perda episódica e pontual que não traduz uma tendência consolidada”.

Nos restantes vinhos produzidos no Douro (mesa e moscatel), também se registou uma evolução favorável sendo que, também aqui, Portugal supera o mercado de exportação. No caso dos vinhos DOP – Denominação de Origem Protegida a receita final rondará os 140 milhões de euros, um crescimento de 8% face ao ano anterior, aqui o peso da exportação fica nos 40%.

Comparando com o Vinho do Porto vemos que alguns mercados em crescimento são comuns, no entanto e a título de exemplo aqui a China tem um peso maior sendo já o 11º consumidor de vinhos de mesa e moscatel do Douro.

Polónia (45%), Angola (40%) Brasil (32%) registaram as maiores subidas. No moscatel, a exportação é residual (750 mil euros), centrada nos mercados da saudade. Mas, China e Taiwan, com crescimentos de 40 e 730% respetivamente, dão sinais de entusiasmo por esta casta mais doce.

A região do Douro, com os vinhos de mesa, generoso e moscatel, gerou, em 2017, 480 milhões de euros, e contribuindo assim com 320 milhões para a balança comercial portuguesa.