As Alterações Climáticas e a Barragem de Foz-Coa

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Diz-se no Minho que: – “em Setembro, ardem os montes e secam as fontes…”. Este ano, os montes arderam de Julho até Outubro. E, mesmo no Portugal húmido, estamos em Novembro e as fontes continuam secas. Ninguém terá dúvidas que na origem dos fenómenos extremos que vivemos estão os efeitos das mudanças do clima, do aquecimento global, do desgovernado crescimento das emissões que contribuem para o efeito de estufa. Os alertas de cientistas e as diligências dos mais esclarecidos não têm sido suficientemente persuasivos para que haja uma comoção global. Alguns danos já ultrapassaram o ponto de não retorno, com efeitos negativos irrecuperáveis no ténue equilíbrio da vida sobre o Planeta.

Entre as geografias mais vulneráveis destaca-se a Europa do Sul, incluindo Portugal.  No âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, as conferências das partes – COP – lograram uma progressiva tomada de consciência, no sentido de reforçar a capacidade dos países para lidarem com o impacto das alterações climáticas. A reunião de Paris (COP21, em 2015), estabilizou o compromisso de limitar a 2º C o acréscimo global de temperatura, em relação à que se verificava na era pré-industrial e, se possível, chegar mesmo a 1,5º C. Apesar do incompreensível egoísmo da nova liderança dos USA, que considera o acordo de Paris desfavorável para o interesse americano, ele entrou em vigor há um ano. Na COP23, a decorrer em Bona, a Comissão Europeia mostrou que é possível chegar a resultados, quando há vontade política clara. A União Europeia conseguiu reduzir em 23% as suas emissões de CO2, entre 1990 e 2016, enquanto a sua economia cresceu 53%! O que importa agora é implementar o acordo de Paris e definir o contributo de cada país para a boa performance colectiva.

Mas subsiste o problema de acesso à água em Portugal, que pode obrigar-nos a rever opções que tínhamos como estabilizadas. O Prof. Eng.º Laginha Serafim, nos anos 70, surpreendeu a comunidade científica quando defendeu o transvase do Norte húmido para o Sul seco, sugerindo que a única bacia hidrográfica com aptidão física para tal seria a do Rio Côa, mediante operações de bombagem de água do Douro, pela cascata do Côa acima, até a verter na Ribeira da Meimoa, na bacia do Tejo.

Mas para isso seria necessário um debate sério que permitisse ponderar os distintos interesses em jogo com a revisão das objecções de natureza cultural que se levantaram à construção da Barragem de Foz-Côa.  O reservatório de Foz-Côa equivaleria a uma reserva de cerca de mil milhões de metros cúbicos de água, com enorme valor estratégico para o vale do Douro e para o reforço do abastecimento de água à Área Metropolitana do Porto. Já não são os argumentos energéticos, para garantir a regularização da cascata do Douro nacional com os seus cinco aproveitamentos hidroeléctricos, cuja potência instalada (de 924 MW) poderia ser devidamente rentabilizada. É antes a capacidade de armazenar água e de a disponibilizar para abastecimento a Norte e a Sul, até ao Tejo. Isto merece reabrir o debate nacional.