Portugal acaba de perder seguramente uns dos seus maior empresários – Belmiro de Azevedo – e também um dos mais importantes empreendedores portugueses.
Nasceu de uma família humilde, de muito irmãos, no Marco de Canavezes, em 1938, pouco tempo antes da Guerra, tendo experimentado a vida dura e austera na sua juventude, condição que moldou o seu comportamento posterior. Cedo revelou a sua capacidade para lutar e para aperfeiçoar as organizações em que se implicava. Tendo-se licenciado em engenharia, podíamos atribuir tais atributos ao seu espírito prático de engenheiro. Porém o que mais nele surpreendia era a sua capacidade para encarar qualquer novo assunto com visão clara e abertura a novas ideias.
Embora nunca tivesse trabalhado para ele, cruzei-me com ele inúmeras vezes, o suficiente para conhecer alguns traços do seu carácter e da sua maneira de ser. Belmiro de Azevedo era conhecido por ser desassombrado e frontal, não tendo paciência para os palavrosos que não fazem, nem deixam fazer. Mas era justo e havia sentido de retidão nas suas atitudes. Não se compadecia com jogadas e interesses de corte, dizendo o que tinha a dizer se a verdade o reclamava. Naturalmente que defendia os seus interesses e os dos sectores de actividade a que se dedicou. Porque estudava os assuntos de forma aprofundada e exaustiva, tinha sempre as suas opiniões muito bem fundamentadas. Sendo inteligente e dotado de boa memória, as suas posições eram expostas de forma coerente e com lógica. Estando convencido de uma opção era irredutível e persistente a defendê-la.
Belmiro de Azevedo, para além de ter sido homem de negócios e dos maiores criadores de emprego qualificado em Portugal, tinha um elevado sentido de altruísmo, revelando disponibilidade para se empenhar em muitos causas e projectos que contribuíam para o desenvolvimento social e cultural do seu país e da sua pátria regional. Os exemplos que me ocorrem são vários. A criação do Business Inovation Centre do Porto, em 1986, talvez a primeira incubadora de empresas inovadoras do Norte de Portugal, que gerou mais de uma centena de empresas inovadoras, com o envolvimento da universidade e de outras instituições regionais. Ou a Porto Business School, um modelo de escola de negócios de gestão privada dentro de uma organização pública (a Universidade do Porto), que tanto contribuiu para a projecção de novos jovens empresários.
Também apoiou organizações culturais inovadoras, como a Fundação de Serralves. Apesar do seu pouco tempo disponível, aceitou ser seu administrador. Sabendo que Serralves preparava a nova geração para compreender melhor o seu tempo, aceitou apoiá-la. Dizia que não pretendia tirar qualquer benefício comercial da boa imagem de Serralves, para a SONAE. Fazia-o apenas por responsabilidade social.
Belmiro de Azevedo tinha um fascínio pelo Douro. Quem não se lembra das acções promocionais do “Espírito do Douro” que organizou nos anos 90, desafiando convidados ilustres a conhecerem melhor o esplendor da região duriense…