Desafios para a viticultura europeia em encostas íngremes e terraços

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Por Manuel de Novaes Cabral, Presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I.P. (IVDP)
Por Manuel de Novaes Cabral, Presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I.P. (IVDP)
Por Manuel de Novaes Cabral, Presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, I.P. (IVDP)

O antigo presidente da OIV, Mario Fregoni, classificou como heróis os nossos viticultores que desenvolvem a sua atividade em encostas ingremes e socalcos: uma viticultura de montanha. Temos algumas no mundo que são uma expressão do esforço humano na transformação da paisagem numa região vitícola. Estas regiões são a expressão dum território (terroir), desafiador para os viticultores. Um desafio que significou, várias vezes, gerações de trabalho duro em condições que hoje não conseguimos imaginar.

Nunca deveremos esquecer que muitos dos nossos vinhos, especialmente as DOP e IGP, são uma expressão de trabalho humano, conhecimentos e uma herança cultural. Uma herança cultural composta por difíceis trabalhos na paisagem, com custos muito elevados.

É muito difícil para os vinicultores gerirem com êxito as suas empresas devido aos custos elevados e a mercados com políticas agressivas de preços. Vivemos num mercado global, onde os vinhos provêm de várias regiões, com características e custos diversos. Ser competitivo em mercados que, tantas vezes, são “cegos”, não é fácil, pois não são compensados aqueles que transformaram a paisagem, permitindo uma cultura numa região que, doutro modo, não teria alternativas económicas viáveis. Temos que comunicar esta mensagem ao consumidor, diferenciando os nossos produtos oriundos de encostas íngremes e de terraços. Como fazê-lo?

A Região Demarcada do Douro é um bom exemplo do esforço feito pelos viticultores. É, também, um bom exemplo do sucesso de uma região, dos seus vinhos, das DOP Porto e Douro e da sua força de transformação ao converter-se num destino turístico e num polo de investigação e de desenvolvimento. Os produtores, os comerciantes, as associações, o Estado, sobretudo através do IVDP, e a Universidade, tiveram e têm um papel determinante no desenvolvimento económico desta região, agreste para os viticultores, belíssima aos olhos dos turistas.

Torna-se necessário garantir a manutenção da população rural, a economia destas regiões e os vinhos únicos que são aqui produzidos e cujas características ímpares são resultado da paisagem feita de encostas íngremes e terraços.

No entanto, existem vários desafios. Por vezes, preferimos seguir o caminho mais fácil. De facto, observamos uma redução de encostas íngremes e terraços na viticultura dadas as dificuldades económicas.

Obstáculos, dificuldades, problemas são um desafio diário para os viticultores em regiões de montanha. Alguém disse “o mundo é plano”: estas regiões são tudo menos planas. Se estas áreas de cultivo forem abandonadas, estaremos perante um problema de imagem para o mundo dos vinhos, no geral, para as regiões em questão, em particular. Sabemos, também, que em certas regiões, é muito difícil produzir outro tipo de produto. É este o caso da Região Demarcada do Douro.

Isto significa que teremos de encontrar formas de reduzir os custos de produção nestas regiões, preservando as encostas íngremes e os socalcos, mas antes auxiliando os viticultores no uso de novas técnicas. De facto, existe uma grande necessidade de inovação tecnológica (drones, robots, etc.).

Para além da tecnologia, não podemos esquecer que uma imagem vende e um produto com uma boa imagem vende ainda mais.