Por Luís Braga da Cruz, Engenheiro Civil
No dia 11 de Novembro, logo pela manhã, o mundo da cultura nacional foi surpreendido com uma notícia devastadora. Morrera subitamente, durante a noite, o vereador da Cultura da Câmara Municipal do Porto – o Dr. Paulo Cunha e Silva. Para mim, o embate de tal notícia não poderia ter sido mais brutal, dado ter estado com ele algumas horas antes na Fundação de Serralves, a presidir à sessão de abertura de um ciclo de cinema sobre a obra integral de Manoel de Oliveira. Este ciclo começava, como não podia deixar de ser, pela primeira obra do mestre, de 1931 – “Douro Faina Fluvial”. A versão mostrada era uma cópia, de 1994, encontrada na Cinemateca Nacional Francesa. Para dar um toque mais contemporâneo, foi-lhe associada uma banda sonora com música de outro mestre da Cultura Portuguesa – Emanuel Nunes – propositadamente composta para animar este talentoso testemunho sobre uns dos aspectos mais simbólicos da vida social e económica da cidade do Porto, a sua relação com a actividade fluvial do Rio Douro.
Comentámos os dois estes aspectos numa sessão em que se relevava a Cultura e se pretendia evocar uma das suas figuras mais importantes do século XX, tão ligado ao Porto e à região do Douro, no aniversário do seu desaparecimento. O Dr. Paulo Cunha e Silva, na intervenção que fez disse, de uma forma premonitória, que a melhor forma de homenagear uma pessoa é sempre revelar a sua obra.
É o que me motiva na crónica de hoje depois desta tremenda perda. Referir que a obra deixada por Paulo Cunha e Silva está longe de ter tido apenas impacto na cidade do Porto.
Tratava-se de alguém de inteligência invulgar, uma curiosidade ilimitada por compreender os processos de mudança e uma enorme vontade de estabelecer a relação entre o conhecimento em geral e as novas ideias. Sempre com prodigiosa capacidade criativa e uma grande vontade de transmitir o que a sua mente irrequieta concebia. Entre os atributos que eu mais apreciava nele, destaco a sua capacidade para saber seduzir e mobilizar os outros para os seus projectos, fazendo-o com alegria e vontade.
Era um homem de Cultura no sentido clássico do termo. Valho-me da definição que o Padre Manuel Antunes referia nos seus textos: “A Cultura é a acção que o homem realiza quer sobre o seu meio quer sobre si mesmo, visando uma transformação para melhor”. Paulo Cunha e Silva foi exactamente assim. Compreendeu perfeitamente como no domínio das políticas públicas a Cultura pode ser um factor de transformação social. Retenhamos o seu exemplo.