Por Emídio Gomes, Prof. Catedrático da UP e Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte
Faz agora um ano que vivi um final de domingo muito estranho. Acabava de chegar a casa com a família depois de um fim de semana na Galiza, quando todos os canais de TV anunciavam uma comunicação do Governador do Banco de Portugal sobre a situação do BES. Tínhamos saído na sexta-feira após o colapso e suspensão da negociação das ações do banco em bolsa e, apesar da tensão que se vivia, não imaginava o que estava para acontecer.
Era há muitos anos cliente do BES. Confiava na instituição e na sua estrutura. Do colaborador da agência ao administrador. Sempre fui tratado pela instituição com correção, profissionalismo e simpatia. Já era assim com os meus pais. Sou daqueles para quem só há um nível de confiança possível numa instituição bancária: cem por cento. Não é possível outro, porque a alternativa é zero. E foi sempre assim que aprendi a olhar para os bancos. Daí que quando questionava o risco da sugestão de uma aplicação em obrigações e me diziam que era diretamente associado ao BES, para mim esse risco era zero porque, pura e simplesmente, não acreditava em qualquer hipótese de falência do banco, que considerava absurda. Por isso confiava, por exemplo, em gestão discricionária de carteira. Tive como consequência algum prejuízo direto por essas decisões.
A situação mudou quando, em vez de risco BES, me começaram a falar em risco GES. Era só uma letra mas fiquei preocupado. O GES eram empresas, de um tipo de universo que não me motivava especialmente. O que significa desde logo dizer, em nome da verdade, que nunca me mentiram ou me tentaram esconder fosse o que fosse. Mas admito que muitas pessoas honestas que, tal como eu, confiavam as suas poupanças ao banco, possam não ter tido a mesma sorte.
Uma palavra ao Governador do Banco de Portugal. Que já provou ser uma pessoa idónea, séria e competente. Que faz questão de encerrar um dos processos mais complexos vividos pela banca. Que se tivesse tido uma ação prévia intempestiva e precipitada estaria provavelmente hoje a ser alvo de violentas críticas por avultadas indemnizações aos responsáveis pela situação. Que faz, ainda, questão de resistir à tentação de soluções fáceis e consequências sem fim.